Um Dia, Um Gato

Quando os véus são retirados, sobra A Essência.


A rotina de um vilarejo na (então) Tchecoslováquia é quebrada pela chegada de um circo mágico cuja atração principal é um gato de óculos escuros. Ao retirá-los, seu olhar é capaz de revelar a verdadeira natureza das pessoas que ousem encará-lo. Amarelo para os infiéis; vermelho para os apaixonados; cinza para os ladrões; e roxo para os egoístas e mentirosos.


Um Dia, Um Gato é uma fábula atemporal que, é bom ressaltar, foi realizado num país sob o julgo comunista no ápice da Guerra Fria e anterior à eclosão da Primavera de Praga (em 1968).

Logo no início, nosso narrador observa a vila do alto. Um a um, descreve seus principais habitantes, mas não só a imagem que passam para a sociedade como também suas reais intenções, algo que apenas um bom observador notaria.

Posteriormente, numa atividade escolar, relata às crianças sobre suas aventuras na juventude, em particular, aquela em que se apaixonou por uma bela dançarina de circo onde a atração principal era um gato com óculos escuros. E eis que um circo, com um mágico (o narrador, mais jovem), uma dançarina e um gato com óculos escuros aparece no vilarejo.

Naquela mesma noite, tem início o espetáculo sob uma belíssima trilha sonora. Num dado momento, os óculos do gato são retirados e a cidade inteira é exposta: os mentirosos, hipócritas, ambiciosos e egoístas ficam roxos; os infiéis, amarelos; os ladrões, cinzas; e os apaixonados, vermelhos.

As crianças, ingênuas, adotam o animal de imediato. Já os adultos, depois de terem suas mazelas expostas, o veem como ameaça e querem silenciá-lo de qualquer forma para que o status quo, tão conveniente a eles, seja restabelecido.

Em resumo, "o que está em cima é como o que está embaixo", ou seja, um vilarejo na Tchecoslováquia comunista na década de 1960 pode muito bem representar arquetipicamente, dramas universais atemporais experienciados por toda a humanidade. Os adultos e suas máscaras em contraste com a inocência das crianças.

Sobre a realização do filme, em si, é tão doce e tão ingênuo, tão sincero que cria uma memória afetiva instantânea desde o primeiro contato que você tiver com ele.

E já dizia JC: vinde a mim as criancinhas...


UM DIA, UM GATO
Až přijde kocour (TCH, 1963)
Direção: Vojtech Jasný
Roteiro: Jirí Brdecka e Vojtech Jasný
Elenco: Jan Werich, Emílie Vásáryová e Vlastimil Brodský
Duração: 1h31m

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