Os Cinco Níveis de Apego

Elsa, de Frozen, já deu a dica: Let it go, let it gooooo...


Nossa realidade é moldada por nossas crenças, que são definidas conforme nossos apegos. Os Cinco Níveis de Apego vem para ajudar-nos a nos conscientizarmos até que ponto nossos apegos moldam a forma como percebemos a realidade à nossa volta; qual sua participação nas decisões que tomamos; como definimos nossa própria identidade com base nas opiniões e julgamentos dos outros e, sobretudo, até que ponto estamos presos à essas concepções.

Don Miguel Ruiz Jr. iniciou sua caminhada, ainda adolescente, ao traduzir as orações, palestras e workshops de sua avó, Madre Sarita, do espanhol para o inglês. Paralelamente, tinha lições com o pai, Don Miguel Ruiz (autor de Os Quatro Compromissos - resenha, aqui). Ao continuar seus estudos, transformou-se em nagual (mestre) das tradições toltecas e, assim, pôs em movimento o seu desejo de compartilhar seus conhecimentos.

De certa forma, Os Cinco Níveis de Apego segue em paralelo a Os Quatro Compromissos (como vários outros, cheguei a este livro ao procurar outros livros do pai do autor). Na vida moderna, estamos mais preocupados em analisar/julgar as ações pelas quais passamos do que em vivenciá-las. Para suprir essa necessidade de entendê-las, precisamos validá-las através de nossos filtros (crenças). Com isso, descartamos tudo o que não entendemos. Como exemplificado no livro: Em vez de simplesmente vivenciar a alegria e os sabores do vinho, estamos analisando as características, tentando desmembrá-lo e ajustá-lo a um contexto e a uma linguagem que já conhecemos. Ao fazermos isso, perdemos muito da experiência real.

Os cinco níveis servem como um roteiro, ou uma orientação para tentarmos identificar em qual deles nos encaixamos, o quanto da realidade deixamos escapar pelo apego a conceitos ou coisas. Quanto maior o desapegado, maior a fluidez da realidade, mais próximo do "quem sou eu" estamos. Os conceitos vêm, você se apega, se desapega e ele vai embora, num contínuo vai e vem. Na outra ponta, quanto mais apegados, mais julgamos saber sobre as coisas, mais rígidos nos tornamos em relação à nossas crenças, mais próximos do "o que eu sei" estamos e assim permanecemos, estagnados. Os conceitos/coisas vêm e ficam.

Se você se julga gordo, você perde boa parte da sua liberdade. Você se prende a este conceito e vive a partir dele. Você é você. Ponto. Você gosta de comer bastante? Isso é você! "Melhor não comer muito... por causa disso ou daquilo..." Pronto. Já reduziu você a alguém que não pode comer muito.

Depois de dedicar os três primeiros capítulos para definir "apego" (aqui, só dei uma pincelada bem superficial), tem início a descrição de cada nível a partir de um exemplo definido: futebol. Conforme vamos subindo a escala, mais bagagem vamos acumulando. Vamos a eles:

Nível 1: O Eu Autêntico. Você gosta de futebol e pode ir a um jogo em qualquer estádio do mundo. Não importa o nível do gramado, das arquibancadas, dos jogadores, você está lá para apreciar o futebol. Quando o árbitro apita o final da partida, você pega suas coisas e vai embora. Vida que segue, o jogo ficou no passado e você não pensa mais nele. Neste nível, você vive o momento, o agora. Tanto faz ter ou não visto o jogo, você apenas observa; se você tiver, você o tem; se não tiver, você não teve.

Nível 2: Preferência. A diferença para o primeiro nível é que você torce para um dos times, não importa o motivo. Antes, sua atenção estava na partida, agora você foi ao estádio para focar no time de sua preferência. Quando a partida acaba, ganhando ou perdendo, você vai para casa e deixa tudo para trás, no entanto, você perdeu boa parte da ação que teve no nível anterior ao focar em apenas um dos times. Você se apega a um dos times, mas só durante a partida.

Nível 3: Identidade. O apego ao time começa a afetar sua vida fora dos portões do estádio. Você torce para um time específico e foi ao estádio para ver o time com o qual se identifca ganhar. Não é como no nível anterior que você escolheu um dos times para torcer; agora, você gosta de torcer para este time específico. Ao final do jogo, você não só se apega ao time como também ao resultado. Pela primeira vez, a partida dura mais do que o tempo regulamentar. Se o seu time ganhar, você fica exultante; se perder, você fica desapontado. No entanto, apesar dos percalços futebolísticos, a vida ainda segue.

Nível 4: Interiorização. Você foi ao estádio porque o time é seu. A vitória e a derrota tem a ver com suas vitórias ou derrotas. O desempenho do time afeta a sua autoestima. Não tem mais #vidaquesegue. Você cria desculpas pela derrota e ridiculariza os outros na vitória. Sua relação com as demais pessoas começa a depender do que elas pensam sobre o seu time. 

Nível 5: Fanatismo. Você é o time. Seu sangue corre nas cores dele. Os adversários, agora, são inimigos. Sua única verdade é torcer para a vitória do seu time. Você acorda e dorme pensando nele. Ganhar partidas faz de você uma pessoa melhor e as derrotas são ocasionadas por teorias da conspiração totalmente irreais. Uma derrota nunca é legítima, é sempre culpa de "alguém". (E o Lula? E o PT?)

Sob regência do Eu Autêntico temos a harmonia da mente, do corpo e da alma como a expressão da vida. Tudo é nítido, cristalino. Na Preferência, temos consciência do apego momentâneo tanto quando ele aflora como quando ele se vai. Ainda somos capazes viver sem precisar distorcer o conhecimento para ajustá-lo aos nossos pontos de vista. Na identidade, vestimos uma máscara e esquecemos que se trata de uma máscara. O esquecimento de quem realmente somos leva a algum tipo de sofrimento, mas geralmente não é nada muito intenso. Na interiorização, a identidade se torna o modelo pelo qual aceitamos a nós mesmos. Trata-se da domesticação pelo apego.

No fanatismo, desenvolvemos um apego inflexível ao conhecimento e um excesso de intolerância às ideias opostas. O fanatismo é impulsionado por uma necessidade de acreditar cem por cento em alguma coisa, mesmo que ela só tenha significado se outras pessoas também estiverem de acordo. Qualquer coisa que contradiga ou coloque em dúvida a sustentabilidade da crença é uma ameaça direta, e um fanático vai defender sua crença a qualquer custo. O preconceito, a intolerância e a violência são os instrumentos utilizados para que a crença seja imposta. Apesar do que pode aparecer, a força propulsora por trás do fanatismo não é o ódio ou a raiva, e sim uma forma extrema de amor condicional por si mesmo e pelos outros.

O livro termina com algumas dicas para identificarmos em qual nível estamos apegados à nossas crenças e como podemos transitar do nível 1 ao 5 ao longo das nossas vidas. Você pode ser fanático em relação à algo e manter o Eu Autêntico em outros assuntos, porém, dificilmente não teremos apegos. Eles são parte do Sonho do Planeta (o sistema coletivo que dita as regras da sociedade, melhor explicado na minha resenha de Os Quatro Compromissos). No entanto, quanto menor o grau de apego, mais leve a alma se torna.

"Os Cinco Níveis de Apego não são regras ou diretrizes para 'alcançar' o nível um, o Eu Autêntico. Os Cinco Níveis são simplesmente um sistema de referência para nos ajudar a ter consciência da nossa posição em relação às várias coisas na nossa vida em dado momento. Podemos olhar para qualquer situação e determinar o que impulsiona nossos pensamento e nosso comportamento conforme o apego que está em ação. (...)
"Quando você está pronto para abandonar um apego, tudo o que é preciso para começar é uma vontade de dizer 'sim, eu quero abandonar'. E essa é a beleza simples de tudo isso. Quando temos consciência, não há mais a exigência do mecanismo do juiz e da vítima para nos motivar. O nosso novo motivador é a paixão, alimentada apenas pelo amor incondicional e pelo reconhecimento de nosso potencial ilimitado para avançar na trajetória que escolhemos." (pp. 102/103)

Um livro muito interessante para ser lido nessa época de "polarização". Seu posicionamento num dos extremos ou no meio será exclusivamente causado pelo seu nível de apego.

lido em 08/2020



Os Cinco Níveis de Apego
A sabedoria tolteca para o mundo moderno
Don Miguel Ruiz Jr.
Ed. Best Seller (1ª Edição, 2015)
(lido em e-book)
disponível no kindle unlimited (08/2020)

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