Contato

Quando as verdades científicas de nada adiantam contra a fé do que se sente e que não possui uma explicação segundo a nossa lógica


A Dra. Eleanor Arroway é daqueles cientistas em tempo integral cujas vidas pessoais são preenchidas pela busca incessante do objeto de seus estudos. De operadora de radioamador na adolescência à radioastrônoma, dedicou toda a sua vida à procura de alguma forma de contato, seja extraterrestre, seja extradimensional. Um dia, seu esforço é recompensado e ela recebe um sinal de rádio vindo da constelação de Vega contendo o projeto de uma máquina que, acreditam, possa ser o meio pelo qual poderão efetivar o contato entre as duas civilizações.

O sinal captado pelo radiotelescópio da equipe de Ellie foi a primeira grande transmissão televisiva da Terra: a abertura dos Jogos Olímpicos de Berlin, em 1936. Mais especificamente, o discurso de supremacia branca proferida por Hitler na ocasião. Porém, dentro do sinal, há outro, um manual de instruções para a construção e operação de uma cápsula espacial.

Contato não se trata apenas da construção de uma máquina para posterior viagem espacial. Religião, política, belicismo, enfim, todo o caldo cultural inerente à nossa sociedade no seu modo de lidar com o "desconhecido" está dentro desta obra de ficção(?) científica, que encontra tempo até mesmo para discutir a supremacia (ou não) da razão sobre a fé. Neste ponto, a (então) racionalista Ellie tem como contraponto Joss, ex-seminarista e consultor da Casa Branca.

Baseado no romance homônimo de Carl Sagan, mundialmente conhecido pela série Cosmos (80), há várias camadas que podem ser desprendidas do argumento do filme (que contou com a colaboração do próprio Sagan). A mais óbvia, a existência de vida extraterrestre. A mais sutil, a mudança consciencial (reforma íntima?) de Ellie, de racionalista e ateia a crente, não em Deus, mas naquele algo que nossa lógica não pode explicar, ou seja, passa a ter fé no que sentiu, apesar das provas em contrário.

Apesar de ter feito a descoberta, Ellie é preterida da missão por sua crença suprema no deus-razão. Entretanto, no momento do lançamento, a máquina para lançamento da cápsula explode em função da sabotagem de um grupo de extremistas religiosos. Porém, uma segunda máquina foi construída e Ellie se torna a escolha natural.

Após o final da experiência, uma desorientada Ellie pergunta em que dia estão. Mesmo contra todas as evidências, não se convence das provas materiais captadas. Ela sente que se passaram horas, talvez dias, mas todas as evidências apontam para o fracasso da missão. Entre a soltura da cápsula onde ela estava e a sua queda na rede de proteção, passaram-se segundos, exaustivamente registrados por várias câmeras.

Interessante a performance de Jodie Foster. No começo, tão certa de si, tão cheia de certezas... mas bastou ter uma experiência inexplicável para toda a sua vida ser posta em julgamento. Ela já não sente mais o chão aos seus pés. Gagueja, se contradiz, não sabe explicar o que aconteceu. Da certeza à incerteza. Da incredulidade à crença em algo que não consegue explicar, mas que não possui qualquer dúvida que exista. Um enorme salto de fé que poucos conseguem dar.

Pena que a cena final responde a essa contradição, mas aí já é tarde. Ellie continua radioastrônoma, mas agora passa a acreditar nos seus sentimentos acima da razão e da lógica.

Eu tenho um sentimento muito forte por Carl Sagan. Eu acordava todo sábado para ver a série Cosmo. O mais impressionante é a atualidade de tudo o que está lá, apesar de ter sido produzida há mais de 30 anos. E o que eu mais gosto em Contato é o fato de Ellie ser o alter-ego de Sagan. Ambos dedicaram suas vidas à procura do sentido da existência. Ambos olharam para a estrelas em busca de repostas.

Apesar de pesquisar exaustivamente para descobrir se Sagan não era ou não ateu, ainda não descobri nenhuma evidência quer do seu ateísmo, quer de sua fé em Deus. O que eu descobri, e isto está fartamente espalhado em todas as suas intervenções, é a crença que a resposta está lá fora. Infelizmente, ele se foi antes de obter qualquer evidência palpável de vida extraterrestre (não pôde nem mesmo ver o lançamento do filme, pois morreu um ano antes).


CONTATO
Contact (EUA, 1997)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: James V. Hart e Michael Goldenberg (baseado no livro "Contact" de Carl Sagan)
Elenco: Jodie Foster, Matthew McConaughey, Tom Skeritt, James Wood, John Hurt
Sítio Oficialcontact-themovie.com

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