A Passagem

"Os budistas sempre tiveram razão. O mundo é uma ilusão."


Henry, um jovem e perturbado estudante de belas artes, pergunta, logo no início, o que seria "real" para seu novo analista, Sam, que substitui uma colega que acabara de sofrer um colapso nervoso. Sem resposta, diz que se matará quando completar 21 anos, o que ocorrerá em três dias. Isso perturba Sam, pois é um caso semelhante ao da artista plástica Lila, sua namorada e antiga paciente que tentou o suicídio. Depois dessa consulta, fatos estranhos farão com que Sam também comece a se questionar sobre a realidade.

A Passagem não é um filme de fácil digestão. Quando o vi pela primeira vez, no cinema, não entendi metade. Seu roteiro é truncado, mas está cheio de pistas espalhadas ao longo da trama (os "vazamentos" da realidade experimentados por Sam). Mesmo que você não tenha captado todas, ele se torna autoexplicativo nos últimos 5 minutos.

Por motivos óbvios, foi um completo fracasso de bilheteria, mas isso não tira o poder de sua história arquetípica. Eu realmente recomendo que o filme seja visto antes da leitura dos parágrafos seguintes. Num dado momento, você terá dois caminhos e você precisará escolher qual deles você deseja percorrer.

A seguir, explico a história por trás da história do filme. Isso estragará totalmente o seu prazer de ver e juntar por conta própria as peças do quebra-cabeças que o filme lhe dará. Continue por sua conta e risco.

A mensagem final de A Passagem, cujo título original pode ser traduzido livremente como "fique", se torna explícita com a tradução feita por seus distribuidores nacionais: o momento de transição entre dois estados de consciência, o "aqui" (vida) e o "além daqui" (morte).

Há livros na literatura espírita sobre espíritos que ficam vagando por anos no local de suas mortes, conversando e interagindo com as pessoas como se nada tivesse acontecido. Segundo a filosofia (religião?) gnóstica, há um momento de transição entre a vida e a morte onde nós recriamos nossa realidade. Para os cristãos, existe o purgatório, onde estaremos diante do julgamento.

Foi mais ou menos isso que aconteceu com Henry. Ele dirigia o carro, com sua namorada e seus pais, quando houve um acidente. Nesses poucos minutos entre a vida e a morte, cria uma nova realidade com eles e as pessoas que estiveram ao seu lado em seus minutos finais. Todos que estavam no carro morreram e ele se sentia culpado (daí o pedido de perdão escrito nas paredes de seu apartamento). Porém, o acidente foi causado por um pneu furado. Sua primeira analista, a que teve colapso nervoso, foi a moça que lhe prestou os primeiros socorros. Depois, ele foi ajudado por Sam (médico) e Lila (enfermeira). Próximo a tudo isso, a mãe e seu filho, que segurava o balão.

Os "vazamentos" da realidade podem ser vistos como a sua entrega, pouco a pouco, até que ele não resiste aos ferimentos, decide seguir em frente e começa a desconstruir essa "realidade paralela" (o pai volta a enxergar, a mãe sangra, a cidade para e o encara).


A PASSAGEM
Stay (EUA, 2005)
Direção: Marc Forster
Roteiro: David Benioff
Elenco: Ewan McGregor, Naomi Watts e Ryan Gosling

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