Há Tanto Tempo que Te Amo

Culpas que carregamos


Juliette passou 15 anos de sua vida atrás das grades. Sua irmã mais nova, Léa, a convida para morar juntamente com seu marido, seu sogro e suas duas filhas adotivas até que ela se restabeleça. Mas recomeçar não é fácil. Não para alguém que carrega a culpa que Juliette carrega durante tanto tempo. Cada dia se torna uma batalha para sobreviver ao dia seguinte, quando tudo recomeçará.

Não há nada transcendental nesse filme. Se forçar a barra um pouquinho, posso usar um aspecto dele para refletir sobre a libertação de um ciclo reencarnatório através da Reforma Íntima de Juliette., ou o fato de passar por uma terrível prova com aquele por quem ela deveria sentir amor incondicional. Porém, meu propósito principal é divulgar um dos melhores filmes que vi, não só pela história, que não é original, mas também pela forma com que ele é realizado e pelo desempenho das duas protagonistas.

Como uma flor que desabrocha, vamos conhecendo aos poucos a história de Juliette. Sabemos que ela estava na prisão. Depois, descobrimos o que ela fez. Em seguida, descobrimos que ela carrega uma enorme culpa pelo acontecido, o que a fez ficar calada durante todo o julgamento e prisão. Finalmente, na última cena, a lavagem da roupa suja acumulada durante 15 anos entre as duas irmãs, quando Juliette é obrigada a colocar para fora tudo o que ela represou dentro de si todos esses anos.

Há Tanto Tempo que Te Amo não tocará todo mundo. É um filme pesado. Sobretudo pela trilha sonora intimista e o olhar e os gestos que Kristin Scott Thomas impõe à sua Juliette. Parece que ela não está lá, que ela está em outra realidade, outro mundo. Para cada passinho para frente de Juliette, o passado volta para assombrá-la, seja na desconfiança do cunhado, nas idas frequentes ao serviço social e ao oficial de sua condicional, ou no próprio trabalho, onde ninguém pode saber o que ela fez. Seu reflexo pode facilmente ser confundido como um melodrama barato, mas ele também pode ser visto pela ótica dos recomeços. Como é difícil recomeçar. Como é trabalhoso se afastar de suas antigas crenças. E, sobretudo, como é penoso se perdoar e aceitar a ajuda daqueles que só querem o seu bem.


HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO
Il y a Longtemps que je t'aime (FRA, 2008)
Direção: Philippe Claudel
Roteiro: Philippe Claudel
Com: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein e Serge Hazanavicius

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