A Turista Espacial

A tragédia da sociedade moderna


Num planeta onde a humanidade e a natureza vivem em equilíbrio, a vida transcorre harmoniosamente. Não há um governo central, as decisões são de comum acordo, e nem moeda, as trocas são feitas por escambo. Todos têm uma alimentação vegetariana e, apesar de haver algo como "homem-mulher-criança", não há o núcleo familiar que conhecemos, pois as crianças são educadas e cuidadas por todos, sem qualquer disputa egoística entre unidades auto-suficientes. Neste planeta, a vida acontece sem ansiedades, pois seus habitantes vivem o dia-a-dia sem grandes expectativas.

De tempos em tempos, se reúnem para trocarem informações, tomarem suas decisões e fazerem suas trocas. Também decidem quem irá visitar outros planetas para compartilhar outros modos de vida com os demais. Alguns são concorridíssimos, mas um planeta específico, de nome Terra, é sempre rejeitado pelo seu atraso social de tal forma que ninguém se voluntariou a visitá-la nos últimos 200 anos. Mila se voluntaria e parte para os bárbaros que ainda usam dinheiro e fazem outras aberrações.

Na Terra, ela desembarca especificamente na Paris da década de 1990, no pós-Rio '92, quando o Ecologismo saiu da clandestinidade à qual estava relegado, praticado apenas por alguns "hippies", e se tornou a principal preocupação das pessoas mais conectadas com a coletividade e menos centradas no Ego. O efeito-estufa ainda era algo teórico e "distante". O centro das atenções recaía sobre o buraco da camada de ozônio (do qual ninguém mais fala hoje em dia e, dizem, foi fechado).

Além de protagonista, Colline Serreau também escreveu e dirigiu A Turista Espacial que mostra, essencialmente, o quanto a vida caótica que vivemos nos desconectou dos pequenos e belos momentos da vida.

Com sua pureza e magnetismo, Mila muda a vida de todos com os quais interage. Da doceira gananciosa e estressada que joga fora doces fora da validade ao executivo que passa a andar descalço e a abraçar árvores, passando pela moça que repensa se deve ou não comer o cadáver que ela acabou de comprar no açougue...

Ela se detém com um cirurgião-chefe, refém do próprio ego, que fez incontáveis cirurgias, mas que nunca perguntou a seus pacientes como eles estavam emocionalmente. Num acesso de loucura (ou seria lucidez?) ele joga a TV da família pela janela para que eles possam olhar nos olhos de cada um e conversar.

Mila interage com vários outros personagens exóticos, inclusive faz algumas "revelações bombásticas", do tipo quando entra numa igreja e descobre o fim trágico de um turista espacial como ela, que acabou numa cruz.

A Turista Espacial é uma comédia de humor negro com uma pitada de ficção científica. Não é tão estridente como aquelas às quais estamos acostumados de Hollywood, mas diverte do mesmo modo pelo sub-texto que não deixa dúvidas: vivemos tão no automático que é preciso que alguém de fora apareça para nos mostrar a tragédia que são os valores da vida moderna.

La Belle Verte (FRA, 1996)
Direção: Colline Serreau
Roteiro: Colline Serreau
Elenco: Colline Serreau, James Thiérrée

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