QI + QE + QEs = TODO
Vivemos e aprendemos, sempre. Até recentemente, só conhecia o QI, o
Quociente de Inteligência. Era a medida padrão para a inteligência desde o
início do Século XX. No final do século passado, surgiu o QE, Quociente
Emocional. Já não bastava ser inteligente, devemos saber lidar com nossas
emoções. Recentemente, surgiu o QEs (ou QS, em inglês), o Quociente
Espiritual (Spiritual Quotient). Pensei que era um conceito da década
de 2010, mas Leonardo Boff já escrevia sobre ela em 2003!
Abaixo, uma pequena introdução a estes três nível de inteligência, por
Leonardo Boff.
E viva a diversidade!
Uma frente avançada das ciências, hoje, é constituída pelo estudo do
cérebro e de suas múltiplas inteligências. Alcançaram-se resultados
relevantes, também para a religião e a espiritualidade.
Enfatizam-se três tipos de inteligência:
A primeira é a inteligência intelectual, o famoso QI (Quociente de Inteligência), ao qual se deu tanta
importância em todo o século 20. É a inteligência analítica pela qual
elaboramos conceitos e fazemos ciência. Com ela organizamos o mundo e
solucionamos problemas objetivos.
A segunda é a inteligência emocional, popularizada especialmente pelo psicólogo e neurocientista de Harvard
David Goleman, com seu conhecido livro "A Inteligência emocional" (QE =
Quociente Emocional). Empiricamente mostrou o que era convicção de toda
uma tradição de pensadores, desde Platão, passando por Santo Agostinho e
culminando em Freud: a estrutura de base do ser humano não é razão (logos)
mas é emoção (pathos). Somos, primariamente, seres de paixão, empatia e
compaixão, e só em seguida, de razão. Quando combinamos QI com QE
conseguimos nos mobilizar a nós e a outros.
A terceira é a inteligência espiritual. A prova empírica de sua existência deriva de pesquisas muito recentes,
dos últimos 10 anos, feitas por neurólogos, neuropsicólogos,
neurolinguistas e técnicos em magnetoencefalografia (que estudam os campos
magnéticos e elétricos do cérebro). Segundo esses cientistas, existe em
nós, cientificamente verificável, um outro tipo de inteligência, pela qual
não só captamos fatos, idéias e emoções, mas percebemos os contextos
maiores de nossa vida, totalidades significativas, e nos faz sentir
inseridos no Todo. Ela nos torna sensíveis a valores, a questões ligadas a
Deus e à transcendência. É chamada de inteligência espiritual (QEs =
Quociente espiritual), porque é próprio da espiritualidade captar
totalidades e se orientar por visões transcendentais.
Sua base empírica reside na biologia dos neurônios. Verificou-se
cientificamente que a experiência unificadora se origina de oscilações
neurais a 40 herz, especialmente localizada nos lobos temporais.
Desencadeia-se, então, uma experiência de exaltação e de intensa alegria
como se estivéssemos diante de uma Presença viva. Ou inversamente, sempre
que se abordam temas religiosos, Deus ou valores que concernem o sentido
profundo das coisas, não superficialmente mas num envolvimento sincero,
produz-se igual excitação de 40 herz.
Por essa razão, neurobiólogos como Persinger, Ramachandran e a física
quântica Danah Zohar batizaram essa região dos lobos temporais de o ponto
Deus. Se assim é, podemos dizer em termos do processo evolucionário: o
universo evoluiu, em bilhões de anos, até produzir no cérebro o
instrumento que capacita o ser humano perceber a Presença de Deus, que
sempre estava lá embora não percebível conscientemente.
A existência desse ponto Deus representa uma vantagem evolutiva de nossa
espécie homo. Ela constitui uma referência de sentido para nossa vida. A
espiritualidade pertence ao humano e não é monopólio das religiões. Antes,
as religiões são uma das expressões desse ponto Deus.
Autor: Leonardo Boff
_________________________Artigo publicado no Jornal do Brasil On Line em 05/12/2003
http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/boff/2003/12/04/jorcolbof20031204001.html
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