O Dia que a Terra Parou

Parem! Ou nós os pararemos. A escolha é de vocês


Aposto que você decidiu ler essa resenha pensando no filme estrelado por Keanu Reeves, não? Confesso ter sido motivado por ele, mas o objetivo é promover o filme original, de 1951, que poucos conhecem e que continua atual (bem mais do que sua equivocada refilmagem).

O essencial do roteiro é o mesmo: num determinado dia, um objeto voador não identificado (uma esfera, em 2008, e um típico pires voador, em 1951) aterrissa num parque (Nova York e Washington, respectivamente) e de seu interior saem duas criaturas, um extraterrestre humanoide (Klaatu) e um robô (Gort). A grande diferença é o objetivo da missão de cada um deles. Em 1951, Klaatu veio entregar um ultimato aos governos terrestres, dando a eles a escolha entre o extermínio ou a sobrevivência. Em 2008, ele veio comunicar que a Terra seria salva da praga que ameaça destruí-la: os humanos.

A década de 1950 marca o auge da Guerra Fria entre os EUA e a (então) URSS, cujas maiores representações são as corridas armamentista e espacial. O pânico de um holocausto nuclear iminente deu início ao condicionamento pelo medo dos estadunidenses e o cinema, lógico, refletiu esse inconsciente coletivo ao trazer filmes com monstros, raças alienígenas, discos voadores, naves espaciais etc. A imensa maioria desses filmes é lixo puro, com roupas de látex e naves espaciais de papelão, mas há alguns que, de tão icônicos, marcaram não apenas a época, mas se tornaram clássicos atemporais.

O Dia em que a Terra Parou (51) é um desses clássicos. A corrida armamentista das duas superpotências chamou a atenção de raças alienígenas, que enviam Klaatu ao nosso planeta para um recado direto a nossos líderes. Eles não permitiriam que os humanos se tornassem uma ameaça para outros povos menos evoluídos da galáxia. Se nós não parássemos espontaneamente com nossos testes nucleares, seríamos exterminados. Tratado como uma ameaça, ele não é ouvido. Klaatu, então, decide se infiltrar numa típica família estadunidense participante do american way of life para decidir se mereceríamos ou não uma segunda chance.


Em sua refilmagem, de 2008, já estávamos sob influência da “Guerra ao Terror”. Antes mesmo de abrir a boca, Klaatu é tratado como uma ameaça por invadir o espaço aéreo “pertencente” aos EUA. Ao se deparar com a arrogante Secretária de Defesa (dos EUA), Klaatu pergunta: o que faz você pensar que este é seu planeta? A Terra está morrendo e precisava ser salva. A matemática era simples: com a permanência da raça humana, a Terra não teria chances. Se eles fossem exterminados, talvez, ela pudesse se recuperar. Inicialmente, ele tenta conversar com as autoridades, mas é igualmente ignorado. Ele, então, inicia o processo.

Em 1951, a mensagem é de esperança e o roteiro desenvolvido com uma forte carga filosófica: somos merecedores de uma segunda chance? Podemos mudar e conviver harmoniosamente com outros povos? Já em 2008, sob forte influência do atire primeiro e pergunte depois da Doutrina Bush, o foco do roteiro é no belicismo. O tema geral não é mais a convivência pacífica entre os povos e sim o eco-terrorismo. Uma pena. No geral, o filme de 2008 não é de todo ruim, mas o seu roteiro é tão simplório e o diretor faz uso tão descarado de clichês para forçar o melodrama que fica difícil chegar até o fim.

Agora, eu descrevo eventos que concluem as histórias dos dois filmes. Continue sob sua conta e risco.

Em 1951, o convívio com uma viúva da II Guerra Mundial e seu filho faz com que ganhemos uma segunda chance. Mas, antes de ir, Klaatu resolve mostrar do que são capazes, caso seu ultimato seja ignorado: todos os objetos que utilizam algum componente eletrônico param por 30 minutos. Dado o seu recado, Klaatu e Gort voltam ao interior de sua nave e partem. Em 2008, depois de desencadeado o processo, Klaatu se envolve com uma mulher, igualmente viúva, mas dessa vez da Guerra do Golfo, e seu filho adotivo e, juntamente com a conversa que teve com um professor de biologia ganhador de um nobel, resolve reconsiderar a ideia de extermínio da raça humana. Como consequência, todos os aparelhos eletrônicos são fritados por um pulso eletromagnético. É o recomeço do zero.



The Day the Earth Stood Still (EUA, 1951)
Direção: Robert Wise
Roteiro: Edmund H. North
Com: Michael Rennie e Patricia Neal

The Day the Earth Stood Still (EUA/CAN, 2008)
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: David Scarpa, Ryne Douglas Pearson e Stuart Hazeldine
Com: Keanu Reeves e Jennifer Connelly

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