Feitiço do Tempo

Uma vida em um dia


Phil (Bill Murray), um arrogante “Moço do Tempo”, é designado para cobrir o tradicionalíssimo "Dia da Marmota" de uma comunidade no “fim do mundo”. Ao passar pelo limite da cidade, é preso por uma barreira mágica. Feita a entrada ao vivo para o noticiário, uma nevasca o impede de sair da cidade, obrigando-o a passar a noite no local. No dia seguinte, assim como em todos os outros, os eventos do dia anterior se repetem e ninguém, fora ele, tem consciência deste feitiço. Todos os dias são o “Dia da Marmota” (Groundhog Day).

Feitiço do Tempo é uma comédia ácida e inteligente que dificilmente encontramos hoje em dia. No finalzinho, ganha um ar de "comédia romântica", mas mesmo assim não tem paralelo com as comédias descerebradas que são produzidas em escala industrial por Hollywood. Aqui, temos a representação, em tom bem humorado, do ciclo reencarnatório da Roda de Samsara.

Primeiro, a confusão. Depois, com a conscientização da “prisão”, a revolta. Após ser recompor, vem as tentativas de escapar e, como elas se mostram infrutíferas, a resignação. Nem mesmo se suicidando Phil consegue se livrar dessa “maldição”. A menos que mude suas atitudes, mudando a cadeia de acontecimentos durante o dia, todos os dias serão exatamente iguais. A única diferença é o nível de conhecimento que acumula de um dia para o outro ("encarnação" após "encarnação").

Após a resignação, Phil vai, inicialmente, se dedicar aos prazeres materiais, mas logo descobrirá como são efêmeros. Num segundo passo, como um "deus", ele passará a manipular as informações e as pessoas, tratando-as como marionetes, mas logo se entedia. A seguir, ele se volta para a produtora que veio juntamente com ele, Rita, que é completamente diferente. De posse de seu “poder”, ele precisará de vários dias para finalmente encantá-la a ponto de convencê-la a sair para jantar. Nos incontáveis jantares posteriores, ele descobrirá algo que Rita gosta e vai conseguir encantá-la um pouco mais, mas como ele não estará sendo verdadeiro, ele sempre escorregará num momento e colocará tudo a perder nas (incontáveis) tentativas de levá-la para a cama.

A partir daqui, acho que tratarei de assuntos que poderão estragar o seu prazer de assisti-lo pela primeira vez, mas algumas das passagens abaixo estão no trailer. Leia por sua conta e risco.

Até que vem a mudança. Já que ele não tem mais as limitações do tempo finito que experimentamos, ele passa a fazer coisas que nunca fez antes. Aprende a tocar piano e a esculpir. Ao mesmo tempo, ao invés de “brincar de deus”, ele passará a usar o conhecimento adquirido para ajudar as demais pessoas. As mesmas situações às quais ele anteriormente reagia com arrogância, ele passa a se sentir feliz por ajudar os outros. Só não consegue mudar o destino de um mendigo que sempre acaba morrendo, não importa o que ele faça (ou seja: quando chega a hora, nada pode mudar o seu destino).

Alguns dias depois, sua mudança de atitude chama a atenção de Rita, que ao invés de ser xavecada, o convida para um café, que ele recusa, pois ele tem tarefas a serem feitas para evitar que pessoas se machuquem. Eles se veem somente à noite, num baile em homenagem ao Dia da Marmota onde Phil será a estrela, pois todos comparecerão para agradecê-lo pelas boas ações que ele terá feito ao longo do dia.

Enfim, Rita se encanta por ele a ponto de dormirem juntos. Eis que, sua prisão tem fim. No “dia seguinte” ele acorda, com Rita ao seu lado, e é realmente o dia seguinte ao Dia da Marmota.

Moral da história: quis o Universo dar uma lição ao “malvado” Phil e deu a ele o direito de escolher o tipo de teste. Ou ele mudava de atitude pelo amor, respeitando as pessoas, ou ele seria obrigado a reviver incontáveis “vidas” até que, pela dor, ele se libertasse daquele ciclo de aprendizado através do amor incondicional, transmutando sua consciência a um novo ciclo de aprendizado (agora, ao lado de Rita).


FEITIÇO DO TEMPO
Groundhog Day (EUA, 1993)
Direção: Harold Ramis
Roteiro: Harold Ramis, Danny Rubin
Elenco: Bill Murray, Andie MacDowell

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