O SEU UNIVERSO: O Ancestral Místico

Um ponto de vista sobre a criação da religião grega

Narrado pelo Oráculo de Delfos, é desvelado um ponto de vista sobre a criação da religião grega.

Como um típico livro de Rubens Saraceni para iniciados, sua narrativa não é trivial, pois traz assuntos incomuns para os incautos. Por exemplo, o oráculo se descreve como uma emanação, um entre os 14 dons originais (7 da luz e 7 das trevas) de um dos quatro ancestrais místicos (ar, água, terra e fogo), ligado ao ser humano pelo ar. É um elemental; é um gênio; e pode ser encontrado em um ponto de força na natureza.

Pois é...

"Quando o ser humano foi direcionado para o planeta Terra e isto há milênios incontáveis, foram postos à sua disposição muitos pontos de força na natureza para que pudesse manter uma ligação com seu ancestral místico.
"O oráculo ou dom oracular é um deles.
"Todos possuem o dom de se comunicar com o mundo invisível. É um dom comum a todos os seres humanos. (...)
"Tudo é regino por uma lei divina que não está ao alcance do ser humano. Este é regido por leis que não podem ser alteradas. Elas são imutáveis.
"O homem é que tem que se adaptar a elas e viver o melhor possível, sem desafiá-las, pois se o fizer, será cobrado.
"É regido pelo ar. É através do ar que o som se propaga. Portanto, o ancestral místico do dom oracular é o ar." (p. 24/25)

Depois de se introduzir, foca na história de Neema, a pitonisa de Delfos, que foi inspirada pelo Oráculo e ergueu um templo em seu local de força. Instada a procurar por Meon, sua história cruza com a do Ancião, que lhe revela que Meon não é uma pessoa, mas sim um mistério (não seria um livro de Rubens Saraceni que não houvesse um mistério a ser nominado... porém, aqui, ele é desvendado).

Corte temporal e a narrativa foca em Delfos, filho de Neema, que percorre a Grécia para espalhar o culto ao deus Apolo e, após uma conversa com Hera (a deusa), se abate ao constatar que não possuía algo inerente a todo ser humano. Sem perspectiva, se encontra com Atenas (a igualmente deusa), que lhe concede o elemento que lhe faltava e, em retribuição, passa a espalhar o culto a Atenas, a pastora, numa passagem muito bonita.

A história termina quando Delfos encontra seu ancestral místico, assim como Neema o havia encontrado e, antes dela, o Ancião.

Um história curta, simples. Complica um pouco na hora de tentar entender o que é esse Ancestral Místico. Anteriormente, eu pensava que era a alma, ou o "verdadeiro Eu"... agora, quando reli o capítulo final, embaralhou tudo. Um dado momento cheguei até a pensar que era a entidade, ou guia espiritual, que nos ajuda a seguirmos aqui na 3D, mas, no final... acho que desvelei este mistério.

"- Pois eis o oráculo emitido: eu sou vocês e vocês são parte de mim. Eu os amo por inteiro. E vocês amam parte de mim. Eu os quero por inteiro. E vocês querem parte de mim, portanto, só quando vocês me quiserem por inteiro eu os unirei.
"- Mas como e quando isto se passara, Neema?
"- Não sei, mas é melhor nós não nos preocuparmos com isto agora, Delfos. A jornada será muito longa para que comecemos a nos preocupar com o seu final. Melhor cuidarmos destaparte do caminho agora, para que o próximo trechonão seja tão difícil, não?
"- Sim, você tem razão. Ao menos este nós já conhecemos, certo, Neema?
"- Sim, Delfos.
"Neste instante, tiveram a nítida impressão de ouvirem uma voz a lhe sussurrar:
"- Eu sou vocês e vocês são parte de mim, por isto, eu os amo.
"- Eu sou o vosso ancestral místico." (pp. 148/149)

Deus?

A santíssima trindade que move minha busca por conhecimento é a Grécia Clássica (o apogeu da filosofia grega), o Egito Antigo (e suas escolas iniciáticas) e a civilização maia. Quando entrei num sebo, fui para a área dos livros de umbanda e dei de cara com este, que é um dos primeiros livros escritos por Rubens Saraceni. *E se passa na Grécia Clássica!* Uma leitura extremamente agradável na maior parte da narrativa. Nas partes complicadas, deixei fluir... pode ser, pode não ser.... e os mistérios não são assim mesmo?

Rubens Saraceni (1951-2015) iniciou seus estudos e desenvolvimento umbandista na década de 1980 e sua obra psicográfica teve início na década de 1990. Fundador do Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda (1999), possui mais de 50 livros publicados, entre doutrinários, histórias romanceadas e de magia, e cerca de 30 ainda não publicados (!). A maioria versa sobre a Umbanda, mas muitos não guardam relação direta com a religião. Instruído por seus guias espirituais, fundou uma vertente da Umbanda, que foi denominada (por outros, nunca por ele) de Umbanda Sagrada.

Lido em Fevereiro de 2018