A trajetória de um espírito ao longo de 1.500 anos. Neste período, foram 17 encarnações (2 delas no Brasil) nas quais Eustáquio (o nome que recebeu na primeira delas) transita de um espírito raivoso, materialista e desejoso por poder até sua regeneração como abnegado médico participante da Cruz Vermelha Internacional, com sua vida voltada totalmente para a caridade.
O processo de confecção do livro foi interessante: através de vários médiuns, sob a orientação de um mentor, as passagens dos livro foram transcritas, gravadas e, posteriormente, sistematizadas a partir de mensagens provenientes da Colônia Espiritual Alvorada Nova (para onde o protagonista sempre voltava em seus desencarnes).
A narrativa é divida em três partes, agrupadas de acordo com a personalidade do protagonista. Na primeira (Na Senda do Erro, entre 445 e 1080), Eustáquio é um ser mau e vingativo e extremamente materialista. Apesar de encarnações planejadas com as condições necessárias para sua reeducação moral, sua busca por poder material causa ainda mais débitos consigo e com outros.
Na segunda (Em Reeducação, de 1080 a 1502), encontra-se em transição. Apesar de mais lúcido na erraticidade (na fase anterior, desencarnava e nem se dava conta, subia e descia sem saber o que viria depois), tem algum arbítrio no planejamento das próximas encarnações, porém, apesar de muitos vacilos, parece aprender com seus erros. Começa a ter alguma noção da Lei da Causa e Efeito.
Na terceira e última (A Caminho da Regeneração, 1502-1945), apesar de não ser totalmente regenerativa, vemos a retificação de muitas de suas atitudes e o encontro com várias personalidades que estão em nossos livros de história.
Não vou descrever todas as 17 encarnações, mas se tem a curiosidade, encontrei este texto com um compilado de todas, que foram basicamente na França, na Itália e na Alemanha, além de duas no Brasil, uma na Palestina e uma na África.
Quinze séculos é pouco para purificar um espírito, mas é nítida a evolução do protagonista ao longo das páginas, não só na materialidade como, sobretudo, na erraticidade. No começo, eram praticamente encarnações obrigatórias, ele subia, não sabia o que tinha acontecido, não sabia para onde ia e já estava de volta. Perto do fim do livro, ele debatia com seu mentor sobre algumas provas e expiações.
Interessante a explicação sobre os três tipos de encarnação:
"Reencarnação chave: destina-se aos maiores e mais importantes resgates que se tenha a enfrentar. As grandes dívidas acumuladas pelo Espírito geralmente concentram-se numa determinada região do globo terrestre e relacionam-se com personalidades específicas. O reencarnante, no palco de seus mais graves desmandos, sofre uma trajetória de provas e expiações. Triunfando no percurso, conseguirá elevada depuração espiritual. Fracassando, continuará no mesmo estágio evolutivo e deverá prosseguir, no futuro, na trilha expiatória e regenerativa.(...)"Reencarnação alternativa: constitui um apoio ao Espírito para que ele se desvincule de sua anterior passagem pela materialidade. Uma reencarnação chave que não trouxe progresso à criatura não será facilmente esquecida. Assim, a reencarnação alternativa, em local distante do palco de seus arraigados desvios e com outros seres, possibilita à entidade em progresso desligar-se dos seus laços do passado, abrindo seu campo de atuação para o futuro. (...)"Reencarnação preparatória (ou estratégica): realizado o estágio da criatura em uma ou mais reencarnações alternativas, o retorno à crosta terrestre que deverá preceder a uma reencarnação-chave denomina-se preparatório. Logicamente, o Espírito, mal utilizando o seu livre-arbítrio poderá acumular tantos débitos em uma reencarnação preparatória, que não poderá voltar, logo após, em reencarnação chave.(...)"Reencarnações chave têm elevado número de provas e menor número de expiações. Nas reencarnações alternativas dá-se o inverso (maior número de expiações e menor número de provas). As reencarnações preparatórias são equilibradas com semelhante número de provas e expiações, embora com predominância dessas últimas." (pp. 129/130)
A leitura é agradabilíssima, algumas encarnações não são muito inspiradoras, mas a imensa maioria traz esclarecimentos muito pertinentes. Por exemplo, em sua primeira encarnação como mulher, quando foi estuprada e teve que dar seu filho para a adoção, foi a primeira vez que Eustáquio teve consciência do que era o amor. Tanto que, em seguida, ele encarna como mãe dos seus dois estupradores e tem a primeira encarnação onde praticou a caridade para com o próximo. Caso você se interesse por história, aqui há o relato vivo de várias passagens marcantes da história da humanidade. O julgamento de Joana D'Arc, a Reforma Protestante, a Revolução Francesa, a ascensão dos ideais marxistas, a Revolução Russa, etc. Eustáquio teve contato com todos estes fatos e os personagens envolvidos.
"O tempo flui rápido, trazendo a Josef o seu tão almejado amadurecimento espiritual. Consciente da sua missão, ele não tem dúvidas a respeito do acerto de seu trabalho e, sempre orientado de perto pelos Amigos Espirituais, a quem dá ouvidos e segue os conselhos, abraça cada vez mais a prática da caridade. Em face de sua posição como médico dos pobres na cidade de Zürich, começam a surgir-lhe à frente, passando por seus cuidados, inúmeros adversários do pretérito, ora como doentes, ora como companheiros de atividade. Os resgates — em face de seu procedimento cristão — vão naturalmente acontecendo. A distribuição espontânea do amor e o cultivo da fraternidade representam atos positivos que somente retornos benéficos são capazes de proporcionar". (p. 323)
De Eustáquio, um impiedoso general que foi morto por sua arrogância a Josef, um abnegado médico integrante da Cruz Vermelha, uma trajetória que vale a pena conhecer.
lido em 08/2020
Eustáquio
Quinze Séculos de Uma Trajetória
Abel Glaser, pelo espírito Cairbar Schutel
Casa Editora O Clarim (5ª Ed. - 2017)
344 pgs. (lido em e-book)
disponível no kindle unlimited (08/2020)
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