Memórias de um Pretinho de Angola

A história de Pai Pretinho de Angola


Na África, há muito tempo, viveu um ser que viria a ser conhecido como Pai Pretinho de Angola. Desde pequeno, tinha acesso ao "mundo invisível" e não só conversava com espíritos como também com animais (e os espíritos destes). Fugiu de sua aldeia ainda pequeno para não ser morto pelo xamã, que viu nele um rival. Viveu afastado por muito tempo até que voltou ao convívio humano. Ainda vivo, teve sua queda moral, apesar dos avisos de seus amigos espirituais. Conseguiu sua redenção ainda em vida, até que partiu para o mundo espiritual.

A primeira fase do livro, as narrativas de Pretinho ainda vivo, é fantástica, de uma época na qual a humanidade convivia lado-a-lado e em comunhão com a natureza, respeitando-a e retirando dela apenas o necessário. É inimaginável esse estilo de vida hoje em dia. O segundo capítulo, quando se depara com uma onça e seu filho enfermo, é de chorar pela pureza do diálogo e da interação respeitosa entre ambos.
"Um dia eu estava na frente de minha cabana quando apareceu uma onça, eu não acreditei, era enorme, fiquei paralisado. Ela rodou, rodou, até chegar bem perto de mim toda mansa e colocar sua cabeça no meu colo. Na hora eu pensei: Meu pai do céu, me recebe porque eu já vou…
— Pra onde? — uma voz respondeu.
— Você está falando comigo? — perguntei assustado.
— Sim, estou, afinal, não estou vendo mais ninguém aqui, homem.
— Como pode ser?
— Ora, você não conversa com os bichos brilhantes? Qual é o problema de conversar comigo?
" (posição 177)
A segunda parte, quando Pretinho tateia no mundo espiritual, é o mais denso, não pelo estilo da narrativa. Ele tenta ser didático, mas é física quântica na veia! Na erraticidade, ele mostra todos os conhecimentos à medida que os adquire ao estudar a Cruz das Almas, que gera o Mistério de Evolução no seu centro. Inicialmente, vai ao Embaixo (Mistério da Geração, reino dos instintos e dos processos dolorosos e pesados); depois, segue para o Alto (Mistérios da Fé e seus processos equilibrados), à Direita (Mistério do Conhecimento / reinado da racionalidade) e à Esquerda (Mistério do Amor / reinado das emoções) e termina com a nova religião que foi fundada no início do século passado.

Impossível tentar resumir essa segunda parte. Colocarei apenas uma citação para tentar explicar porque as entidades já equilibradas no Alto ajudam aquelas que estão em desequilíbrio no Embaixo:
"Vejo muitos fios perguntando por que os seres de luz ajudam, agora você já sabe o porquê, porque não dá pra ser feliz em todas as partes quando existe gente ainda sofrendo do seu lado, é isso e ponto. Não podemos comparar o tamanho da tristeza, (...) a dor de ver uma pessoa sofrendo é enorme, e ele não está mais acostumado a ter dor, ele aprendeu a aprender pela felicidade, então uma simples dorzinha alheia já lhe causa um grande desequilíbrio em várias partes dele, como na sua emoção, sentimentos, ai engloba psicológico, e a lista vai longe, só por que ele viu alguém sofrer. (...)
"No embaixo, onde ainda existe desvirtuamento e dor, todos querem causar mais dor no outro, por isso que um quer destruir o outro, estão no ciclo destrutivo, o instinto diz que, se eu sofro, o outro deve sofrer também, quanto mais eu perco, mais o outro deve perder também, se eu estou com dor, o outro deve ter dor também, isso faz parte de nosso instinto, então o que deve acontecer é apenas todos entrarem no ciclo construtivo, e é para isso que trabalhamos sempre que podemos, porque isso nos faz sofrer, mesmo o ser mais evoluído sente tristeza ao ver isso acontecer, então seu instinto é acionado para ajudar, para ele mesmo parar de sofrer por ver tanto sofrimento em seus irmãos." (posição 2086)
Prolixo em todos os assunto, Pretinho não fala muito sobre os bastidores da Umbanda. Entre seus devaneios, vai pincelando uma característica aqui e ali.

Para finalizar um último conselho que (acho) deveríamos levar para todos os aspectos de nossa existência e se casa com algo semelhante que ouvi de um swami hindu, sobre não viver atrás da iluminação, apenas trilhe o caminho, a iluminação virá por si só como consequência e não causa:
"Quer dizer que primeiro somos envolvidos, vivemos o novo sem conseguir classificar o que é, e só depois é que percebemos e danos nome ao novo que nos envolveu? — Isso! É isso mesmo! Então significa que enquanto evoluímos nem percebemos, estamos vivendo o novo sem sua percepção total, aí, depois que acontece um amadurecimento adequado, a cada mistério tem seu tempo, somos apresentados de forma a classificar nossa posição correta, mas já vivíamos nela!" (posição 3360)
Adorei as almas!
Lido em 09/2020



Memórias de um Pretinho de Angola
Suely Cyrino
Edição Independente (2018)
298 pgs. (lido em ebook)
disponível no Kindle Unlimited (09/2020)
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