O Calendário Maia

O tempo linear é uma ilusão


O "Calendário Maia" é, na verdade, um conjunto composto por vários calendários específicos e complementares. O atual calendário adotado pelo mundo globalizado, o Gregoriano, é baseado no ciclo do Sol. Já os calendários maias eram delimitados não apenas pelo ciclo solar, mas também pelo ciclo lunar, pelos equinócios (quando o dia e a noite têm a mesma duração) e pelo Solstícios do Inverno (a maior noite do ano no hemisfério norte, que corresponde ao maior dia do hemisfério sul, entre os dias 21 e 22 de dezembro) e do Verão (maior dia no norte; maior noite no sul, entre os dias 20 e 21 de julho).

Os maias habitaram a região entre o sul do México, Belize e Guatemala e as mais antigas construções já encontradas de sua civilização remontam à época de 1.000aC. São descendentes dos Olmecas e o apogeu de sua civilização se deu entre os anos 250 e 900, ou seja, enquanto a "Europa Civilizada" era castigada pela peste bubônica, as invasões dos "bárbaros" e as trevas da Idade Média, os maias já olhavam as estrelas, tinham o zero em seu sistema numérico e faziam cálculos astronômicos com precisão tão acurada quanto os computadores atuais.

Como os egípcios, os maias tinham um sistema de glifos que entalhavam em suas principais construções, "coincidentemente", pirâmides. A mais famosa delas, a de Kukulcán, em Chichén Itzá, se trata de um calendário a céu aberto de 365 dias (91 degraus x 4 lados + 1 base  = 365). Também escreveram algo semelhante a livros, que mais tarde vieram a ser conhecidos como códices. Cada um era composto por uma folha com cerca de 7 metros de comprimento dobrada como se fossem páginas.

Quando os espanhóis chegaram ao "Novo Mundo", os maias já estavam em decadência. Dentre as diversas causas dessa decadência (superpopulação, desastres ambientais, guerras), nenhuma é conclusiva, pois a maior parte de sua cultura se perdeu com o genocídio a "colonização" espanhola e posterior cristianização forçada, quando a igreja católica espanhola queimou quase todos os livros "satânicos" dos "hereges". De todos os códices escritos, apenas quatro escaparam e foram nominados de acordo com a biblioteca nais quais se encontram: Dresden, Madrid, Paris (encontrado numa lata de lixo) e Grolier (Nova York, atualmente desaparecido).

De todos, o "Códice Dresden" é o mais completo e detalhado. Decodificado em 1880, contém os calendários, uma tabela com todos os eclipses lunares e as famosas 7 Profecias Maias.

O conceito maia de tempo é diferente do nosso. Enquanto (ainda) pensamos no tempo como um fluxo linear (o que ocorreu ontem não ocorrerá amanhã), os maias o viam como um ciclo circular: o que ocorreu hoje certamente ocorrerá no mesmo dia do próximo ciclo. Para prever esses ciclos, construíram seus calendários e agruparam os dias de acordo com dois de seus números mais poderosos, o 20 (o número de "tribos" ativadas pelo poder ressonante da vida, 10 de inspiração e 10 de expiração; conceito semelhante aos arquétipos de Jung, cada uma dessas tribos se "especializou" em um aspecto da vida) e o 13 (número de dimensões do mundo espiritual: 7 dias e 6 noites). Em outros termos, os maias formavam seus calendários na razão 13:20, enquanto o calendário gregoriano está baseado na 12:60 (12 meses e 60 minutos/hora).


Calendário Tzolkin

Os 260 dias do Tzolkin (Tzol: contagem; kin: dia) são as diversas combinações possíveis dos 13 tons da criação com os 20 signos solares. Utilizado para compreender as várias dimensões da natureza humana através da união dos processos divinos (o ciclo cósmico) e humanos (o início de atividades, nascimentos, casamentos, guerras), é também chamado de Calendário Sagrado. Acreditavam que cada pessoa nascia para realizar uma missão específica determinada pelo seu dia (kin) de nascimento. Quanto maior a harmonia do indivíduo com o seu selo pessoal, mais virtuosa seria sua existência, pois contaria com as forças do Universo para realizar sua missão terrena.

Cada um dos seus 20 kins possui um nome e uma energia única. São eles: imix (crocodilo), ik (vento), akbal (noite), kan (sacrifício), chicchan (cobra), cimi (morte), manik (veado), lamat (coelho), muluc (água), oc (cachorro), chuen (macaco), eb (grama), ben (semente de milho), ix (jaguar), men (águia), cib (coruja/abutre), caban (terremoto), etz'nab (faca), cauac (tempestade), ahau (Sol). [recomendo a Wikipedia (em inglês) para um melhor detalhamento das característica de cada um desses dias]

Os 20 kins são combinados em agrupamentos de 13 (7 dias e 6 noites): 1 imix, 2 ik, 3 akbal, .... 13 eb, 1 ben, 2 ix, 3 men, ... 8 ahau, 9 imix, ... 13 chicchan, 1 cimi ... 13 ahau. Dessa forma, o kin 1 imix só se repete após 260 kins.


Calendário Haab

Baseado nos equinócios e nos solstícios, é o calendário maia que mais se assemelha ao gregoriano, porém, com o número fixo de 365 dias e um agrupamento diferente. É dividido em 18 uinals (cada uinal com 20 kins) mais 5 kins "sem nome" denominados uayeb (dias de má sorte).

Conhecido com o Calendário Terreno, é utilizado para a interação com os ciclos das estações climáticas. Assim, os 18 uinals foram nominados de acordo com as estações e os eventos agrícolas. São eles: Pop (tapete), Uo (conjunção negra), Zip (conjunção vermelha), Zotz (morcego), Zek (morte), Xul (cachorro), Yaxkin (novo sol), Mol (água), Chen (tempestade negra), Yax (tempestade verde), Zak (tempestade branca), Ceh (tempestade vermelha), Mac (enclausurado), Kankin (sol amarelo), Muan (coruja), Pax (época de plantio), Kayab (tartaruga), Cumku (celeiro).

Diferentemente do Tzolkin (cuja combinação signo/tom se dá de acordo com duas engrenagens justapostas), no Haab, a contagem dos dias é semelhante ao nosso calendário, contínua (com a especificidade que os dias de cada "mês" variam de 0 a 19): 0 Pop, 1 Pop, ..., 19 Pop, 0 Uo, 1 Uo, .... 19 Cumku (o solstício de inverno) e, finalizando o ciclo, os cinco dias do uayeb, para que o mesmo ciclo se reiniciasse com o kin 0 Pop.

Durante o uayeb, os maias acreditavam que seus deuses descansavam e, por isso, as fronteiras entre o mundo físico e o submundo ficavam mais tênues. Para impedir a possibilidade de desastres causados pelas divindades malignas, que incluía até mesmo a destruição do mundo, uma série de rituais eram feitos nesse período para que o próximo ciclo pudesse ser iniciado em harmonia.


Calendário Cíclico

Da combinação entre o Tzolkin (o sagrado) e o Haab (o terreno), forma-se a visão cósmica maia do tempo, composta por 18.980 dias únicos (73 ciclos sagrados e 52 ciclos terrenos), o que corresponde a 51,96 anos do Calendário Gregoriano. Para os maias, o ser humano só completava o seu desenvolvimento espiritual e físico após um ciclo do Calendário Cíclico, quando ele tivesse passado por todas as combinações de frequências e pulsações cósmicas.

A combinação dos dois calendários também servia para sincronizar o calendário terreno. Como não há ano bissexto no Haab, a cada 52 ciclos, antes do primeiro kin do conjunto subsequente do Tzolkin e do Haab (1 inix 0 Pop), os maias festejavam durante 13 dias. Dessa forma, o erro do Calendário Cíclico após os 13 dias de festas é de 37 centésimos de segundo. Já no Calendário Gregoriano, após 13 anos bissextos (durante 52 anos), o erro chega a 26 segundos.


Calendário de Conta Longa


É o calendário fundamental para compreensão das profecias maias sobre o "fim" do mundo. Como não há contagem de ciclos (Haab 320, Tzolkin 1.204 etc), os maias criaram outro calendário, baseado na interação de todo o Sistema Solar com o Universo, para catalogar os acontecimentos relacionados à sua civilização.

Há dois mil anos, já sabiam que o Sol possui uma órbita elíptica de 25.625 anos que ora o aproxima do centro da Via Láctea, ora o afasta. Este ciclo foi dividido de duas maneiras diferentes. Na primeira, em dois ciclos denominados dia (quando o Sistema Solar se encontra mais próximo do "Sol Central" da Via Láctea e a consciência humana sofre uma expansão) e noite (quando ele se afasta e a consciência se retrai).

Na segunda, o movimento do Sistema Solar foi divido em cinco ciclos de 5.125 anos: manhã (o Sistema Solar acaba de sair da escuridão para entrar na luz; período de gestação), meio-dia ("Sol Central" da galáxia é muito forte; etapa de desenvolvimento em sua maior expressão), tarde (a luz do "Sol Central" se enfraquece), entardecer/noite (onde se inicia a retomada de consciência) e noite/amanhecer (preparação para um novo ciclo).

Em suas profecias, os maias contavam o tempo a partir de sua mítica origem, em Agosto de 3.114 a.C. (já vi textos afirmarem ser no dia 2, outros, dia 11, mas a data que mais se repete é 13). Esse dia coincide com a transição do 4º para o 5º ciclo, que durará 13 baktuns (5.125 anos; 1.872.000 kins) e se encerrará no dia 21 de Dezembro de 2012. Porém, esse não será o "fim", mas apenas a transição do 5º para o 1º ciclo do Sistema Solar, do 13º para o 14º Baktun, que levará a uma mudança de todos os planetas. O "fim" está reservado mais adiante, para o dia 12 de Outubro de 4.772 (para os maias, o Universo é destruído e recriado a cada 7.885 anos). Mas isso é assunto para uma outra postagem.

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