Como desenvolver a maestria da consciência

Carlos Castañeda (1925 - 1998), formou-se em antropologia e seu primeiro livro publicado, The Techings of Don juan - A Yaqui way of knowledge (A Erva do Diabo, no Brasil), foi fruto de sua tese de mestrado. Desde então, foram 13 livros publicados, 11 deles autobiográficos, nos quais relata suas experiências a partir dos ensinamentos passados por Don Juan Matus, índio da tribo mexicana dos Yaquis. Entre seus livros, O Fogo Interior foi o 7º a ser publicado.
Meu contato com Carlos Castañeda se deu através de uma citação no filme A Viagem (Cloud Atlas, 2012), num diálogo entre Luisa Rey (Halle Berry) e Isaac Sachs (Tom Hanks). Num dia, ao passear por uma livraria, dei de cara com O Fogo Interior e, ao folheá-lo, veio a certeza que precisava levá-lo, pois fiquei obcecado pelo que poderia significar o título do 2° Capítulo, "Pequenos Tiranos". O que seria isso? Por que temos que agradecer quando nos depararmos com alguém assim?
Em termos gerais, "fogo interior" é como os yaquis chamam a consciência, aquilo que anima todo ser vivo e Don Juan a distingue em dois tipos. A primeira, "a consciência do lado direito", é o estado de consciência "normal", necessário para a vida cotidiana. A segunda, "a consciência do lado esquerdo", corresponde ao lado misterioso do ser humano, é aquela na qual deve-se buscar a mestria caso seu desejo seja se tornar feiticeiro e vidente.
No começo, dá para levar numa boa os conceitos introduzidos (e que encontram, coincidentemente, semelhanças com outras abordagens da "Nova Era"). Porém, ao longo das mais de 300 páginas, são toneladas de conceitos despejados (novos videntes; pequenos tiranos; emanações da águia; ponto de aglutinação; faixas de emanações; seres inorgânicos; primeira atenção; espreita; intento; posição de sonhar; impulso da Terra; força rolante; desafiadores da morte; molde do homem etc). Impossível não se confundir em algum(ns) momento(s)!
Conselho: deixe a narrativa fluir, sem se prender aos conceitos, pois ela segue o estilo de um romance, com a descrição do dia-a-dia de Castañeda com seu mestre e alguns personagens bem peculiares no povoado mexicano onde eles se encontravam de tempos em tempos para ter a relação discípulo-mestre.
Por mais contraditório que possa parecer, apesar de não ter entendido metade dos conceitos expostos, O Fogo Interior mexeu comigo de uma forma difícil de explicar. Como existe essa tal de sincronicidade, em O Fator Maia (resenha, aqui), há um parágrafo perdido, que pode passar desapercebido por muitos, no qual José Argüelles afirma com todas as letras que os yaquis são descendentes dos maias. Nada é por acaso! (para constar: sou obcecado pelos maias)
Sobre "pequenos tiranos":
"- Um pequeno tirano é um atormentador - explicou. Alguém que mantém poder de vida e morte sobre guerreiros ou simplesmente os perturba, levando-os à distração. (...) Meu benfeitor costumava dizer que o guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro afortunado. Sua filosofia era: você ser afortunado se topar com um em seu caminho, porque, caso contrário, terá de sair à procura de um.
"Discordei violentamente dele. Disse-lhe que, na minha opinião, os tiranos podem apenas tornar suas vítimas idnefesas ou fazer delas seres tão brutais quanto eles próprios. (...)
"- A diferença está em algo que você acabou de dizer - retorquiu. Eles são vítimas, não guerreiros. (...) Todos os que se juntam ao pequeno tirano são derrotados. Agir com raiva, sem controle e disciplina, e não ter paciência é ser derrotado.
"- O que acontece depois que os guerreiros são derrotados?"- Ou eles se reagrupam e volta a enfrentá-los mais preparados ou abandonam a busca do conhecimento e juntam-se às fileiras dos pequenos tiranos por toda a vida." (pp. 30/44)
Em suma, você já ouviu isso antes. Quando um tal de JC disse que deveríamos, sempre, "dar a outra face".
Lido em Outubro de 2014
Relido em Novembro de 2016

O Fogo Interior
Caslos Castañeda
Ed. Nova Era (9ª Edição, 2008)
334 pgs
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