O Guardião do Cemitério

Amor ou obsessão?


Na Bahia do Século XIX, Nestor era um filho que amava demais o pai (sentimento que também pode ser classificado como obsessão). "Amava" tanto que não acreditou quando lhe foi dito que ele havia morrido. Mesmo depois de tanto tempo (acho que mais de uma década), ainda não tinha se conformado. Como resultado, transformou não só a sua vida, mas também a de sua esposa, de seu filho mais velho e do padre de sua cidade num inferno até que seus atos o levaram ao desencarne e ao confinamento nas profundezas dos reinos trevosos.

Eventualmente, foi resgatado por Pai Barnabé (de Relatos de um Preto Velho), que o ajudou a relembrar os últimos acontecimentos de sua vida e o levou à consciência das consequências que a sua obsessão causou a todos com os quais esteve envolvido. Começou a trabalhar no seu perdão e, ao fim, integrou-se à linha dos Guardiões da Umbanda.

"- Pai, não sei mais o que dizer. Tentei de todas as formas fazer com que desistisse dessa loucura, mas o senhor não escuta mais ninguém, e, já que insiste em fazer isso, cabe a mim como seu filho respeitar, mas que fique claro... Não estou nem um pouco de acordo com sua decisão! (...)
"Eu tentava refletir sobre as palavras de Arthur, mas eu estava preso, havia cavado um buraco tão fundo que só conseguia ouvir a mim mesmo; e, com o passar dos tempos, esse buraco foi ficando mais fundo, a ponto de não conseguir ajuda para sair dele.
"Fui para casa e conversei com minha esposa, eu já estava decidido. Por mais que ela fosse contra, eu faria, mas ela não interferiu, apenas ficou me olhando como se estivesse pensando em tomar alguma decisão. Depois de algum tempo, ela me disse:
"- Você é dono do seu caminho, Nestor! Se Deus não conseguiu impedí-lo de fazer tal loucura..., eu não terei esse poder!
"Ela não disse mais nada, apenas foi em direção ao quarto e ficou a tomar conta do nosso pequeno filho." (p. 76)
Li num fôlego só, pois queria a todo custo saber como o pai de Nestor havia sido morto, já que as circunstâncias de sua morte ficaram nebulosa por boa parte da leitura. Já leu Don Casmurro, de Machado de Assis? Ficou anos discutindo se Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Pois bem... Nestor estava tão obcecado em saber sobre a morte do pai que, em um dado momento, todas as opções eram igualmente válidas, inclusive a de que ele não estava morto. Qual é a verdade? Leia o livro. Eu recomendo.

Carlos Casimiro é paulista, umbandista e já conta com 4 livros publicados (2019), recomendo ler este em segundo lugar, pois Pai Barnabé é introduzido em Relatos de um Preto-Velho (resenha, aqui) e Nestor terá um grande papel em Rosa Negra (resenha, aqui). O mais recente, A Guardiã das Sete Catacumbas, ainda não li.

Lido em Junho de 2018



O Guardião do Cemitério
Carlos Casimiro
Ed. Madras (2017)
182 pgs
[ 80 ]

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