O Guardião dos Caminhos

Apesar das adversidades, mantenha-se firme em seu propósito



Há muito, muito tempo, a Terra era dividida em reinos e cada um contava com um Templo Ancestral. Selmi Laresh, foi entregue ainda criança aos cuidados dos mestres do Templo Cristalino da Luz Azul, dedicado à Fé, ao Amor e ao Conhecimento. Sob a tutela de Selmi Laribor, o grande Mago da Luz Cristalina, foi consagrado pelo sagrado Mehi Ogum Sete Lanças.


Em uma de suas viagens ao mundo externo, conhece e se apaixona por uma mulher de cor vermelha, algo proibido nos Templos Ancestrais, pois Laresh, de pele branca, só poderia se relacionar com alguém com o mesmo tom de pele. Foi então, sentenciado à prisão em uma ilha distante. Algum tempo depois, Shel-çá, neta de Laribor, é deixada na ilha, condenada por ter feito sexo antes do casamento.

Sem me alongar muito nessa história após este fato, muito tempo depois, há uma guerra entre os diversos templos numa clara repetição, em menor escala, da rebelião de Lúcifer, quando um grande Mestre da Luz cai por renegar a Lei Maior e se recusar a morrer.

Eventualmente, como todos, Selmi Laresh morreu já centenário, de forma calma, dormindo e com consciência plena do desencarne. Na banda de lá, após muito trabalho no plano espiritual, foi convidado e aceitou tomar posse do trono como Guardião Tranca-Ruas das Almas, sob regência do Orixá Ogum Sete Lanças.

Fui atrás de O Guardião dos Caminhos após tê-lo conhecido, rapidamente, em O Guardião da Meia-Noite, No entanto, diferente daquele, a leitura deste livro não é nada trivial.

Primeiro, pois o seu desenrolar se passa em uma realidade totalmente fora da nossa caixinha. Só perto do final eu percebi que, talvez, fosse a época da Atlântida. Porém, é apenas um palpite, já que em nenhum momento houve qualquer contextualização histórica. De concreto, deduzi apenas que foi há muito, muito tempo.

Segundo, porque os nomes, os pronomes de tratamento e expressões não fazem parte do nosso cotidiano. Por exemplo, o antigo nome do Exu Tranca-Ruas, juntamente com alguns pronomes de tratamento, é Mehi Mahar Selmi Laresh Lach-me yê. Entre os demais personagens há Shell-çá, Iafershi, Hacilet, Hefershi e Laribor. Para complicar, há algumas expressões do tipo Iá-fer-ag-iim-yê e Ag-iim-sehi-lach-me yê que em nenhum momento são explicadas.

Terceiro, de cunho estritamente pessoal, não pude parar de comparar esta história com a de O Guardião da Meia-Noite. Enquanto neste último houve toda uma "trajetória de herói", da queda à redenção, aqui não ocorreu algo semelhante. Enquanto encarnado, a história é compreensível, mas quando Selmi Laresh passa para a espiritualidade, são despejados inúmeros conceitos acerca da Umbanda Sagrada que, a menos que você sente e estude cada um deles (meu caso), serão 30 páginas de uma viagem lisérgica sem pé nem cabeça.

Destaco, desta viagem lisérgica que foi a descrição dos trabalhos do Sr. Tranca-Ruas na banda de lá,  o trecho abaixo:

"(...) Enfim, ainda falta muito para a Umbanda alcançar, no lado material, o que já atingiu no lado espiritual, que é sua imortalidade como religião aberta a todas as outras religiões e a todos os espíritos, pois nela são incorporados os que estão na Luz e os que ainda estão nas trevas. E isso nenhum outra religião fez até hoje. Todas as religiões diziam mais ou menos isto: a Deus os bons e ao diabo os ruins.
A Umbanda diz: venham a mim odos os que transitam, nos dois sentidos, pelos caminhos da Vida, pois a cada um conduzirei e a todos reconduzirei ao Paraíso que perderam em uma noite escura.
O retorno ao Paraíso Perdido é a volta às hierarquias naturais regentes das muitas dimensões da Vida, entre as quais a dimensão humana, que é só mais uma destinada a despertar a consciência nos seres que entraram no ciclo reencarnatório.
A Umbanda diz: venham a mim odos os que transitam, nos dois sentidos, pelos caminhos da Vida, pois a cada um conduzirei e a todos reconduzirei ao Paraíso que perderam em uma noite escura.O retorno ao Paraíso Perdido é a volta às hierarquias naturais regentes das muitas dimensões da Vida, entre as quais a dimensão humana, que é só mais uma destinada a despertar a consciência nos seres que entraram no ciclo reencarnatório." (pp. 195/196)

Enfim, apesar de não ter tido uma leitura agradável, acredito que trata-se de um texto muito importante, pois ele trata basicamente do sexto "sentido" dos humanos, o mistério (manifestação de energia por si que se irradia) relacionado à sexualidade. Já está na fila para uma releitura no futuro.

Rubens Saraceni (1951-2015) iniciou seus estudos e desenvolvimento umbandista na década de 1980 e sua obra psicográfica teve início na década de 1990. Fundador do Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda (1999), possui mais de 50 livros publicados, entre doutrinários, histórias romanceadas e de magia, e cerca de 30 ainda não publicados (!). A maioria versa sobre a Umbanda, mas muitos não guardam relação direta com a religião. Instruído por seus guias espirituais, fundou uma vertente da Umbanda, que foi denominada (por outros, nunca por ele) de Umbanda Sagrada.

Lido em Setembro de 2017 




O Guardião dos Caminhos
A História do Senhor Guardião Tranca-Ruas
Rubens Saraceni
Ed. Madras (8ª Edição, 2017)
208 pgs
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