Propósito
Só para constar, este é um dos melhores livros que eu li em toda a minha vida.
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Uma das perguntas mais intrigantes que a humanidade se faz é "o que é que eu tô fazendo aqui?".
Levi Ben Yohai se questionava a todo momento. Da época em que era o esquisito que conversava com fantasmas num remoto oásis perdido em pleno deserto arábico até o instante em que percebeu que seu destino era ensinar o conteúdo de "O Livro da Vida", ao faraó egípcio Akenaton, quando seu corpo físico estava todo deformado pelos trancos levados ao longo de sua vida.
Essa parte é um spoiler, mas vai te ajudar quando estiver lendo: em nenhum momento o conteúdo de O Livro da Vida é revelado. Devorei suas páginas ansiosamente e, quando terminei, não pude deixar de ficar frustrado. Entretanto -- e disso só me dei conta depois, quando refleti sobre o que havia lido --, ele é liberado pouco a pouco, de forma bem sutil, ao longo de todo o texto.
De menino esquisito que se apaixona pela primeira vez por uma dançarina da qual não soube nem o nome a prisioneiro vendido como escravo. De escravo à príncipe, quando foi peça fundamental pra a abolição da escravatura em seu país. De aprendiz ávido por conhecimento à frustração quando seu ego lhe envenenou com a constatação que o estudo só lhe trouxe adversidades. Da descoberta do amor verdadeiro à constatação que era novamente escravo, desta vez, de tradições seculares. De responsável por salvar a vida do futuro faraó egípcio e, com isso, evitar uma guerra, àquele que sofreu na carne por todo o horror da guerra que evitou.
Apesar de todos esses altos e baixos, inconscientemente, Levi sabia que ele tinha um propósito. Sabia que havia um criador/autor das páginas do seu livro. Quando o seu ego se colocava à frente e julgava ser o próprio escritor, sofria; quando abriu mão de tudo e se auto-exilou, percebeu o caminho. Este é O Livro da Vida.
"Quando ia se recolher também notou que Levi tinha deixado o seu livro no jardim. Era a primeira vez que acontecia de ele esquecer o livro. Não costumava separar-se dele nem para dormir."Apanhou o livro. Ia levá-lo ao filho."Quando se aproximou do quarto, ouviu-o chorando. Aproximou-se silenciosa e ficou olhando-o."Levi havia descoberto que não era dono de si. Era um escravo também. Ele que conseguira libertar o reino dessa nódoa era um deles."Aproximou-se do filho e falou com carinho."- Levi, não fique triste. Você não vai ser infeliz, eu lhe prometo."Contendo o choro, ele perguntou à mãe."- Por que a senhora não me falou isso quando cheguei aqui? Por que não me deixou ser vendido como um escravo ignorante? Tinha que me educar, tornar-me inteligente, estudado,um sábio, para só então me falar isto? (...) Um dia, apareceu alguém no oásis e me aceitou como seu ajudante. Eu vibrei com isso. Ia ser livre para viver. Ainda era um menino, mas encontrei a bailarina e não a vi mais, sofri por causa disso. Ainda que inocente quanto ao desejo que possuímos, eu a amei. Por isso sofri. Quando a Abel, foi o pai carinhoso e o irmão amigo que não tive. Quando partiu, sofri também. Dividi o meu amor com a senhora e com o saber. Isso me fez esquecer que não era feliz. Agora vi Laila e a amei de imediato. Novamente, descubro que não posso me aproximar dela. Acho que tudo o que me traz felicidade não pode ficar junto a mim. Portanto, se O Livro da Vida permanece ao meu lado é porque vai me trazer tristezas. Eu não o quero mais." (p. 70)
Apesar de todos esses altos e baixos, inconscientemente, Levi sabia que ele tinha um propósito. Sabia que havia um criador/autor das páginas do seu livro. Quando o seu ego se colocava à frente e julgava ser o próprio escritor, sofria; quando abriu mão de tudo e se auto-exilou, percebeu o caminho. Este é O Livro da Vida.
Rubens Saraceni (1951-2015) iniciou seus estudos e desenvolvimento umbandista na década de 1980 e sua obra psicográfica teve início na década de 1990. Fundador do Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda (1999), possui mais de 50 livros publicados, entre doutrinários, histórias romanceadas e de magia, e cerca de 30 ainda não publicados (!). A maioria versa sobre a Umbanda, mas muitos não guardam relação direta com a religião. Instruído por seus guias espirituais, fundou uma vertente da Umbanda, que foi denominada (por outros, nunca por ele) de Umbanda Sagrada.
Só para constar, este é um dos melhores livros que eu li em toda a minha vida.
Lido em Dezembro de 2017
As Marcas do Destino
Rubens Saraceni
Ed. Madras (2015)
208 pgs
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