Nosso Lar

A "jornada de herói" de André Luiz


No início de sua parceria com Chico Xavier -- que renderia o total de 13 livros na série A Vida no Mundo Espiritual -- André Luiz narra sua trajetória pós-desencarne, das trevas do umbral à obtenção do título de "cidadão de Nosso Lar", uma das inúmeras cidades espirituais para as quais só iremos após termos consciência do próprio desencarne (até lá, todos passaremos pelo umbral, absortos em nossos pesadelos e apegos).

Inicialmente, André Luiz encontra-se perdido no meio do rolê, trazendo consigo sua bagagem de conhecimentos, preconceitos e falhas morais adquiridos na matéria. Através de sua própria jornada do herói, narrará seu longo processo de reinvenção e aquisição de novos conhecimentos, mais adequados à realidade espiritual. (caso deseje se aprofundar no arquétipo da jornada do herói, recomendo este sítio)

Entre vários temas, ficamos sabendo da organização administrativa e social de Nosso Lar, as revoltas que ocorreram no passado -- com causas bem mundanas: alimentação e (falta de)posses --, o que é o Umbral, como é que funciona a vida espiritual, vampirismo, desdobramento astral, um caso peculiar de "família" espiritual quando uma das pessoas passou por dois (ou mais) casamentos, o corpo após a cremação etc.
"A colônia, que é essencialmente de trabalho e realização, divide-se em seis Ministérios, orientados, cada qual, por 12 Ministros. Temos os Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. Os quatro primeiros nos aproximam das esferas terrestres, os dois últimos nos ligam ao plano superior, visto que a nossa cidade espiritual é zona de transição. Os serviços mais grosseiros localizam-se no Ministério da Regeneração, os mais sublimes no da União Divina. (p. 52)
" (...) Nosso Lar, portanto, como cidade espiritual de transição, é uma bênção a nós concedida por ‘acréscimo de misericórdia’, para que alguns poucos se preparem à ascensão, e para que a maioria volte à Terra em serviços redentores. Compreendamos a grandiosidade das leis do pensamento e submetamo-nos a elas, desde hoje.” (p. 216)

Nosso Lar foi o segundo livro espírita que li (o primeiro foi um de Divaldo Franco do qual não tenho a menor ideia do título e muito menos da temática), em 2008, e tudo o que absorvia era novidade. A releitura ocorreu em 2011, logo após o lançamento do filme, e consegui entender alguma coisa. Agora (2020), após, novamente, rever o filme, releio novamente o livro e, passados 12 anos, posso dizer que não há novidades. Tudo o que é tratado aqui eu já vi/li em outros lugares.

O filme, lançado em 2010 (crítica, aqui) é bem fiel ao livro, com pequenas diferenças pontuais. A grande diferença, desculpável, é a redução da história, pois são 50 capítulos, mas todos os personagens principais estão fielmente retratados. Minha crítica não foi das mais favoráveis ao filme, no entanto, ao ler o livro, ficava pensando "isto daria uma ótima minissérie".

Para concluir, Nosso Lar não é um livro de fácil leitura. Como sua primeira edição é de 1944, o vocabulário utilizado é aquele que raramente usamos hoje em dia. Como pontos positivos, posso citar que tudo o que foi escrito pode ser comprovado em outras obras. No entanto, todas as passagens não estão livres de falhas, afinal de contas, é o ponto de vista de um espírito longe da perfeição, mas que tem o meu voto de confiança, principalmente por esta lição que eu levo para a vida quando começo a julgar alguém (é no momento em que ele volta à sua casa na Terra e vê a esposa casada com outro, no último capítulo):

"Então, em face da realidade, absolutamente só no testemunho, comecei a ponderar o alcance da recomendação evangélica e refleti com mais serenidade. Afinal de contas, por que condenar o procedimento de Zélia? E se fosse eu o viúvo na Terra? Teria, acaso, suportado a prolongada solidão? Não teria recorrido a mil pretextos para justificar novo consórcio? E o pobre enfermo? Como e por que odiá-lo? Não era também meu irmão na Casa de Nosso Pai? Não estaria o lar, talvez, em piores condições, se Zélia não lhe houvesse aceitado a aliança afetiva? Preciso era, pois, lutar contra o egoísmo feroz. Jesus conduzira-me a outras fontes. Não podia proceder como homem da Terra." (p.287)

Relido em 05/2020



Nosso Lar
Chico Xavier, pelo espírito André Luis
Editora FEB (64ª ed., 2014)
319 pgs. (lido em ebook)
disponível no kindle unlimited (em 05/2020)
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