Tambores de Angola

Desobsessão e Umbanda (e Magos Negros)


Através do drama de Erasmino, cético, obsediado e com a mediunidade aberta e não trabalhada, Ângelo Inácio descreve o processo de anulação de bases de magos negros no astral, diferenças entre o Espiritismo e a Umbanda e entre esta última e "os candomblés" e conta uma origem polêmica para a implantação da Umbanda no Brasil.

No plano físico, acompanhamos o desenrolar de uma mediunidade não trabalhada, que abre a porta para obsessores. Erasmino, cético, é levado para a Umbanda, mas, por preconceito, renega a prática umbandista e decide estudar o Espiritismo. No fim, continua no Espiritismo, mas passa a respeitar a Umbanda. No plano astral, vemos grandiloquentes descrições de Ângelo Inácio dos ambientes nos quais os magos negros trabalham, estudo de caso sobre as energias envolvidas no Espiritismo e na Umbanda e as relações de causa e efeito ocasionadas por vingança entre espíritos que se desenrolam por séculos.

Como Ângelo Inácio, o autor espiritual e auto-denominado "repórter do além", deu-se a missão de trazer à materialidade esclarecimentos sobre os magos negros, pois é o terceiro livro dele que eu leio com o mesmo assunto, aqui é esclarecido o papel desses seres trevos no surgimento da Umbanda.
"Aprenderam [os negros escravizados trazidos da África para o Brasil] com o tempo a se vingar de seus senhores e déspotas, através de pactos com entidades perversas e com a magia negra, que outra coisa não era senão as energias magnéticas empregadas de forma equivocada. Dessa maneira, o culto inicial aos orixás foi se transformando em métodos de vingança, em pactos com entidades trevosas, que assumiam o papel dessas forças da natureza, ou orixás, disseminando o que se chamava de candomblé, que, na época, era um disfarce para uma série de atividades menos dignas no campo de magia.
"Com o tempo, foi-se formando uma uma atmosfera psíquica indesejável no campo áurico do Brasil, que havia sido destinado a ser a pátria do Evangelho redivivo, onde estava sendo transplantada a árvore abençoada do cristianismo pelas bases eternas do espiritismo. (...)
"Assim, a magia negra foi se espalhando em forma de culto pelas terras brasileiras. (...)
"Nos planos etéreos da vida (...) foram se apresentando, uma a uma, aquelas entidades iluminadas que haveriam de modificar suas formas perispirituais, assumindo a conformação de pretos-velhos e caboclos, e levariam a mensagem de caridade através da umbanda, cujo objetivo inicial seria o de desfazer a carga negativa que se abatia sobre os corações dos homens no Brasil (....) penetraria aos poucos nos redutos de magia negra ou nos terreiros de candomblé, os quais ainda se mantinham enganados quanto às leis de amor e caridade." (pp. 135/137)
Pode ser verdade? Pode. Porém, antes de tudo, é apenas um ponto de vista, entre vários outros, sobre um mesmo evento. Torci o nariz com isso, reconheço, mas ao mesmo tempo, há várias passagens muito boas com o "intercâmbio" dos espíritos entre o Espiritismo e a Umbanda.

Tambores de Angola, além desta polêmica, é bem escrito, apesar de prolixo em vários momentos, tem uma boa diagramação, é grandiloquente ao descrever a "ciência do mal" nas regiões umbralinas e, assim como a maioria das obras de Robson Pinheiro, faz parte de uma série, Segredos de Aruanda, que ainda conta com Aruanda (resenha, aqui) e Corpo Fechado.

Gostei muito mais da parte da história que se passa na materialidade do que a da espiritualidade. Fiquei tentado a ler Corpo Fechado, que folheei uma vez e achei muito mais focado na Umbanda que os dois primeiros, mas estou com um pé atrás tanto com o médium quanto com o "repórter do além" depois que foi lançada a trilogia A Política das Sobras (O Partido, A Quadrilha e O Golpe).

Lido em 11/2019



Tambores de Angola
Robson Pinheiro, pelo espírito Ângelo Inácio
Ed. Casa do Livro (3ª Edição, 2016)
256 pgs.
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