Aprenda a Viver o Agora

Para sair do automatismo


Não consigo me lembrar quando vi o primeiro vídeo de Monja Coen, só sei que faz tempo. Desde então, ela passa o tempo todo falando sobre apreciar os pequenos momentos da vida. Com isso, demonstra o encantamento com ações aparentemente banais e sempre apresenta aquele semblante zen de vovózinha fazendo crochê enquanto conta causos aos netos. Mas também há aquele vídeos onde ela está pistola da vida, como no começo da pandemia da Covid-19, onde ela criticava quem não se isolava.

Até então, eu só tinha noção do que ela queria dizer. Quando me deparei com Aprenda a Viver o Agora, tudo mudou. Depois de inúmeros vídeos sem conseguir decifrar o zazen, deu o click.

Meditação não é apenas sentar e tentar acalmar o cérebro.

Pasme! Você pode fazer isso ao escovar os dentes! O trânsito engarrafou? Ao invés de soltar toda a sua frustração na buzina, já pensou se encarar esse processo extremamente estressante como uma ótima oportunidade para meditar? Pois então!!!

Dividido em duas partes, na primeira, há uma pequena explicação dos conceitos utilizados no zazen. 

Abaixo, alguns trechos retirados desta parte.
"O que é um instante zen? É aquele instante em que tudo é como é, em que a perfeição se manifesta em sua plenitude. Aquele momento em que nada falta e nada excede. Instante em que seu coração está presente, alerta, pleno de sabedoria e compaixão. A visão é clara. A resposta é correta. O sentimento de estar no lugar certo, na hora certa e fazendo o que é correto se revela. Um instante zen é um instante de paz e de compreensão." (p. 11)
"O sutra da Sabedoria Perfeita é o sutra da não sabedoria, pois insiste que nada pode ser obtido, nada pode ser ensinado, visto que a Sabedoria Perfeita é, está sempre presente, basta que despertemos. Para despertar é preciso abandonar os desejos de ganhos individuais, a ideia falsa de um eu separado, a falsa crença na dualidade." (p. 18)
"Sem intenção de limpar ou controlar, o processo ocorre naturalmente. Por isso, no zen, exigimos a intenção sem intenção. Prática é realização. Não praticamos para nos tornarmos algo diferente do que somos. Somos o que praticamos. A procura já é o encontro. O encontro é a procura. Assim, sem intenção de obter algum estado especial, sem intenção de controlar e limpar, apenas sente em zazen. Deixe que o zazen faça de você uma pessoa livre e pura." (p. 20)
"Não diga que não pode meditar porque pensa muito. É função da mente pensar. Mas também é o não pensar. Meditar pode ser comparado com entrar no mar, por exemplo. Na beira da praia há marolas. Mas o mar não são apenas as marolas. É preciso atravessar a área de agitação da mente, dos inúmeros estímulos recebidos, da mesma maneira como fazemos ao entrar no mar. Ondas pequenas, ondas grandes. Mergulhos rasos e profundos. Atravessamos, furamos as ondas, boiamos, pulamos por cima, nadamos, mergulhamos. Na escuridão abissal não há cores nem sons. O absoluto. Podemos chegar até lá. No pensar, no não pensar e no além de pensar e não pensar." (p. 25)

Depois, na segunda parte, são descritos vários atos que fazemos no automático, sem nos importarmos com as causas ou as consequências. Releia esta última citação, acima. Assim como o mar não são apenas as ondas, escovar os dentes não é apenas colocar pasta na escova e espalhá-la pelos dentes. Você não é uma ilha isolada no meio de nada. Houve uma série de processos até aquela pasta e aquela escova estarem no seu banheiro e a água cuspida após o bochecho terá a sua própria marcha após você descartá-la.

Sobre o banho:
"Só abra o chuveiro quando estiver tudo preparado: toalhas, roupas que usará após o banho, sabonetes, esponjas. Esteja nu. Abra a torneira e aguarde até que esteja regulada a temperatura. Molhe todo o corpo. Feche as torneiras e passe sabão de banho. Comece cada dia por uma parte diferente de seu corpo. Não mecanize. Precisamos sair do automatismo. Divirta-se ao tomar banho, sinta o prazer da água e do sabão que escolheu." (p. 52; grifo meu)
Ninguém disse que é fácil. Apreciar o momento, ao deligar-se do automatismo requer prática. Muita prática. Requer, acima de tudo, prestar atenção no momento. Vai tomar banho? Não pense no que vai fazer após. Tome o banho. Aprecie-o. Faça como a Monja descreveu, acima.

O trânsito engarrafou? Não buzine, aprecie o momento. Como? Simples:
"Cidades grandes têm um excessivo movimento de pessoas, carros, ônibus, metrô, carretas, caminhões, motocicletas. Não reclame. Se você escolheu morar nessa cidade, aprecie.
"Lembre-se de que sua vida está sendo rodada mesmo no trânsito parado. Não desperdice sua vida. Aprecie este momento. Avise que se atrasará, caso isso aconteça. Sem se desesperar, aprecie esses momentos. Lembre-se de que você não está sozinho.
"Observe linhas e cores, luz e sombra. Veja as outras pessoas em seus meios de transporte. Suas escolhas. Se alguém buzinar, estiver apressado, querendo passar por você, insultando, lembre-se de que pode ser uma emergência. Dê passagem, não brigue. A pessoa pode estar muito necessitada de ir ao banheiro. Não fique com raiva, não insulte de volta, não atrapalhe quem está com pressa." (pp. 59/60)
Toda vez que leio essas passagens, parece que eu escuto a voz da Monja. Será que isso é ser zen/ praticar o zazen? Tomara !
"A vida é para ser vivida com alegria. Não há nada enfadonho ou repetitivo. Cada instante é único e jamais se repetirá. Estamos todos girando com o planeta em torno de nós mesmos e do Sol. Ora gira que gira, sempre para a frente. Não há retorno. Vamos que vamos. E podemos ir fazendo o bem para nosso ser individual e nosso ser coletivo. Apreciando e exercitando músculos e neurônios." (p. 62)
"Brigas, lutas, indignações Você pode escolher as lutas que quer lutar. Se ainda estiver dentro do casulo, muito fechado, sem conhecer a si mesmo, irá se indignar por coisas pequenas e insignificantes. Você pode escolher causas melhores para brigar, lutar e se indignar: meio ambiente, preconceitos e discriminações, miséria, abusos de poder, fome, violências, terror. Há múltiplas escolhas. Atenção. Escolha o que vai beneficiar o maior número de seres." (p. 117)
E por aí vai. Quer reprogramar o seu cérebro e viver uma vida mais calma, adquira o livro e pratique. 

Pratique.

Pratique.

Pratique mais um pouco e tenha uma certeza: vai haver um momento que você vai conseguir. Eu levei mais de 10 anos para chegar onde estou agora. Eu ainda tenho o impulso de buzinar no trânsito parado, mas eu paro e penso que não vai adiantar nada. Então, fico na minha, esperando liberar a pista.
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Aprenda a Viver o Agora
Conceitos de zen-budismo e atenção plena para praticar em até 10 minutos
Monja Coen
Editora Academia (1ª Edição, 2019)
Lido em e-book (192 pgs)
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