As Sete Linhas da Umbanda

Pitacos de história e de doutrina umbandista


Antes do marco inicial da Umbanda ter sido estabelecido na incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas em Zélio Fernandino de Morais, em 15/11/1908, já havia "umbandas" sendo praticadas em diversos locais no Brasil, cada uma com sua ritualística específica, mas todas, de certa maneira, baseadas nos cultos africanos, no sincretismo com o Catolicismo, nas religiões dos povos originários (indígenas) e, por assim, dizer, no Espiritismo codificado por Allan Kardec (que já era praticado antes da publicação d'O Livro dos Espíritos).

Se já é difícil catalogar as diversas formas de culto umbandistas, imagine estabelecer suas tão famosas 7 linhas. A autora até tenta explicar porque são 7 (e não 6, ou 8), mas não me convenceu. Através da história, há diversas organizações que se agrupam em 7. Várias dessas organizações são citadas e, para concluir, diz apenas que veio do Cristianismo e esta é apenas uma forma de ver o mundo. Por isso, foram estabelecidas 7 linhas para o culto da Umbanda, uma vez que a base dos cultos africanos é 16 (em razão do número de Odus, as divindades que regem o Destino nos cultos iorubanos e nagôs).

Inicialmente, há uma interessante explicação sobre cada um dos orixás que são mais cultuados na Umbanda, que extrapolam o agrupamento sétuplo, mas não chegam aos 16 Odus, pois em muitas senzalas, não havia um escravizado que tivesse sido sacerdote e aprendido os segredos das religiões africanas. 
"(...) o culto aos orixás perpetuou-se de maneira mais restrita, permanecendo apena os orixás que figuravam mais próximos da realidade e deste plano de existência, além de serem mais familiares, pois o culto era mais aberto do que o dos odus e omodus ou do que o culto dos orixás mais velhos. Assim, permaneceram cultuados Oxalá (O pai), Iemanjá (A mãe), Oxum (A esposa), Xangô (O rei), Oxóssi (O caçador, senhor da fartura), Ogum (O guerreiro), Iansã (O vento que leva notícias e o espírito, quando este se separa do corpo), Nanã (A avó, representando a sabedoria dos mais velhos) e Omolu (O senhor da peste, aquele que conhece a cura)." (p. 27)
Depois, apesar de pesquisar em diversos terreiros para a confecção do livro, a autora foca na Umbanda Tradicional, aquela que seguiu a partir de Zélio Fernandino de Morais. Nunca tinha parado para pensar que há Umbandas que não seguem o ritual iniciado pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas e são tão Umbanda quanto qualquer outra (pena que o foco seja na Umbanda Tradicional, mas fica a dica para pesquisas futuras).

Assim, as 7 linhas são: 1 – Oxalá; 2 – das Águas (Oxum e Yemanjá); 3 – dos Ancestrais (Yori e Yorimá); 4 – Ogum; 5 – Oxóssi; 6 Xangô; e 7 – do Oriente.

Segue o livro com pinceladas gerais sobre as entidades abaixo de cada linha e o arquétipo ao qual se relacionam: Caboclos, pretos velhos, ciganos, boiadeiros, crianças (erês), marinheiros, baianos e toda aquela geleia geral sob o guarda-chuva da Linha do Oriente.

Finalizando, há um quadro comparativo das 7 linhas, com regência, planeta, elemento,  princípio moral, sincretismo católico, dia de semana, banho, horário, pedra, ervas, símbolos, objetos ritualísticos, etc.

E uma observação importantíssima.
"Em muitas casas, a prática ritual e doutrinária pode diferir em tudo do que está colocado aqui. Não quer dizer que este livro contenha informações erradas ou que a prática da casa esteja errada. Quer dizer que as palavras mudam. O universo é o mesmo; a maneira pela qual o vemos é que difere: só se outra pessoa fosse capaz de enxergar por meio dos meus olhos e sentir como eu me sinto, sendo eu, é que ela seria capaz de concordar integralmente comigo." (p. 32)
Portanto, não existe *A* Umbanda. Há Umbandas, cada uma diferente da outra e todas com o mesmo princípio de ligação do humano com o espiritual. Particularmente, como pesquiso sobre o assunto há muito tempo, achei bem superficial. No entanto, se você acabou de entrar para a Umbanda ou não conhece quase nada sobre a religião, este livro é mais do que indicado.
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As Sete Linhas da Umbanda
Janaina Azevedo
Universo dos Livros (2010)
Lido em e-book (128p.)
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