Natureza, Onde reinam os orixás

Um tour pelos pontos de força dos orixás que atuam na Umbanda


Vovó Benta, entidade que serve à Umbanda na linha dos preto-velhos, conduz um pequeno grupo de jovens desdobrados aos pontos de força dos orixás Oxalá, Yansã, Ogun, Oxóssi, Xangô, Nanã, Oxum, Yemanjá e Omulu e, assim, de forma bem simples e didática, traz ao público leigo, a forma de organização de cada um dos "reinos" visitados e a energia por trás de cada um deles.

Além dos pontos de força (os "reinos"), há também uma visita à Aruanda, a "cidade espiritual das entidades que atuam na Umbanda", onde participam de uma gira com várias outras pessoas igualmente desdobradas, que buscam conselhos e curas e na qual médiuns igualmente encarnados serviam como instrumentos para a atuação das entidades. 

A premissa é boa, os conceitos são didaticamente desenrolados, os bastidores dos terreiros desmistificam muitas histórias contadas por aí, mas o desenvolvimento da história deixa muito a desejar. Não consegui me conectar com nenhum daqueles personagens, não me importei com o desenrolar das histórias de nenhum deles. No final, fiquei com a percepção de uma colcha de retalhos, sem começo e nem fim. Fiquei com a impressão de serem histórias soltas. Algumas, são lindas, mas não senti coesão no conjunto.

Queria muito não ter escrito o parágrafo acima, mas foi o que senti. Ao reunir minhas notas para escrever esta resenha, a vontade é de mudar de opinião. Talvez o faça numa releitura. No momento, encerro com um trecho do último capítulo do livro, onde é descrito um trabalho, no plano físico, numa cachoeira.
"Em meia hora chegavam em caravana aos portões do local onde as águas doces desciam em queda por entre as pedreiras de Xangô, formando uma linda cachoeira espumante, cujo som já alcançava seus ouvidos, ali mesmo. O quadro natural pintado pelas mãos de Olorum superava qualquer obra humana. O cheiro do mato, a brisa fresquinha, o som das águas em queda livre e os pássaros e borboletas voando livres por entre árvores e flores, finalizavam a encantadora obra divina.
"Todos vestindo roupa branca, adequada para o momento, pés descalços e alegria estampada no rosto, pressa em acalmar o calor embaixo das águas de Oxum (...)
"- Pai, por que saudamos todos os orixás se estamos especificamente no reino de Oxum?
"- Estamos na natureza, meu filho! E ela, na sua totalidade é o reino de todos os orixás, pois aqui estão presentes todos os elementos. Olhe para o céu e veja o sol que aquece a terra, representando o fogo. Estamos pisando na terra. A água corre por sobre as pedras. Os vegetais estão sendo balançados pelo vento.
"No plano espiritual, Ogum e seus guardiões protegem este local. Oxóssi atua junto aos vegetais, possibilitando-nos um ar renovado. Xangô brada na firmeza das pedreiras. Desde o momento em que pisamos na terra, Omulu absorvia nossos excessos negativos e lá nas águas, as caboclinhas de Oxum nos aguardam para renovar nosso axé. Águas que vão desembocar no mar de Iemanjá e que vieram das fontes de Nanã. E assim por diante! Tudo se interliga e se completa mostrando-nos que como a natureza, necessitamos uns dos outros para sermos inteiros. (pp. 131/132)
Certamente, eu não entendi a premissa do livro. Tem como um livro que possui um trecho como este não ser bom? Ainda mais se considerarmos que a história foi ditada por Vovó Benta, a mesma de Causos de Umbanda (resenha, aqui). Muito provavelmente não estava num bom momento.
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Natureza
Onde Reinam os Orixás
Leni W. Savicki, por inspiração de Vovó Benta
Editora do Conhecimento (1ª Edição, 2012)
144 pgs.
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