A Missão da Umbanda

Instrumento de iluminação e de despertar do Cristo interno


Há muito tempo sinto-me atraído pelos ensinamentos de Ramatís, mas, até recentemente, tive a acesso a poucos livros dele. Felizmente, desde 2020, esta busca se tornou mais fácil, pois há vários disponíveis na plataforma Kindle Unlimited, da Amazon, dos três principais médiuns que psicografaram suas palavras: Hercílio Maes (1950/70), Marcio Godinho (2000) e Norberto Peixoto (2000/10).

Meu primeiro contato com A Missão da Umbanda foi há uns 3 ou 4 anos (por volta de 2017), numa cópia pirata em PDF, mas não cheguei ao final. Desisti antes da metade. No kindle, dei uma nova chance e, devo admitir, não foi fácil chegar ao fim.

Não há um único livro de Ramatís que possa ser considerado leitura de romance. São leituras densas, com vários conceitos em um vocabulário que não usamos no dia a dia. Os psicografados por Hercilio Maes eu entendo, pois surgiram num passado já distante (tente ler qualquer livro anterior aos anos 1960). Marcio Godinho até que tem um estilo mais direto, mas, Norberto Peixoto, por sua vez, parece que eleva cada sentença a um novo patamar de superadjetivação. Para uma pessoa prática e direta como eu, isto é um pesadelo!

Em várias ocasiões eu tinha que voltar ao início do parágrafo porque do meio para o fim dele já estava perdido. Eis um exemplo:
"As civilizações dos tupinambás e tupis-guaranis (...) Como seus fundadores eram Espíritos de outras paragens cósmicas, de Vênus e da constelação de Sirius, tratava-se de uma comunidade missionária instalada no Espaço, de antiquíssima maturação, assim como em seu litoral a fruta germinada no inverno aguarda para só despertar na incidência dos raios solares do verão". (p. 98, grifo meu)
Para começar finalmente a resenhar A Missão da Umbanda, esta é revelada diretamente no preâmbulo, sem meias palavras:
"É missão da Umbanda ser instrumento de iluminação e despertar o Cristo interno, mostrando que a potencialidade para encontrar o caminho e a verdade do espírito imortal está dentro de cada um de seus filhos de fé. Não se mostra como o único caminho, ou mais um tratado doutrinário definitivo; serve sim como mediadora na Terra para auxiliar os que buscam a união com o Divino." (p. 13)
E não é tocada em nenhum outro local, nem esmiuçada ou tangenciada.

Dividido em 3 partes (que eram 4 na versão que li anteriormente), as duas primeiras são no estilo perguntas e resposta e a última é um texto corrido dedicada a algumas reflexões sobre a Umbanda. A parte suprimida era reservada aos pretos-velhos e trazia alguns textos bem interessantes com belos ensinamentos (como se houve algum ensinamento vindo de um preto-velho que não fosse belo).

Na primeira parte, há um estudo profundo sobre os fundamentos da umbanda, suas influências e diferenciações dela com as práticas magísticas africanas. (se você entender de primeira este primeiro parágrafo, parabéns!)
"A Umbanda não distingue o bem e o mal aos moldes judaico-cristãos ocidentais. Preconiza, fundamentada nos valores crísticos, universais, a possibilidade de felicidade, numa teologia que libera os adeptos da compunção lacrimosa de sofrer nas entranhas da carne os pecados praticados, desoprimindo da autoflagelação psíquica. Isso acabou criando uma armadilha ante as populações crentes, evangélicas, católicas e neopentecostais: os Espíritos de Pretos Velhos, Caboclos e Crianças, bons e virtuosos, teceram a representação do bem, equiparados aos mentores kardecistas e aos santos canonizados. A aplicação da Justiça cósmica é entendida precariamente pela maioria, que, inadvertidamente, a interpreta como sendo o mal, o sofrimento.
"Agrava-se essa dissonância com a prática desmesurada de cobrança de trabalhos mágicos, amarrações e despachos pelos motivos mais rasteiros, mundanos, em que vários terreiros de práticas mágicas populares, distorcidas, competem na busca dos fiéis, cada vez mais escassos, na tentativa de sobrevivência do 'pai' ou 'mãe de santo' e para a manutenção das despesas". (p. 64)
A segunda parte, direcionada à origem da Umbanda, é a mais interessante de todas (já que não há mais a dos pretos-velhos). Sim, a Umbanda foi fundada em 1908, está fundamentada no tripé caboclos-pretos-velhos-crianças, na prática da caridade e com influências dos cultos africanos e indígenas e nos ensinamentos do Cristo. No entanto, sua prática pode ser rastreada até a época da Atlântida (o Aum-ban-dan da Umbanda Esotérica). Se formos mais longe, a ritualística umbandista pode ser observada em épocas anteriores à formação da Terra.

Para finalizar, há reflexões sobre a Umbanda hoje ( Exu não é diabo, raspar a cabeça, briga de orixás pelo médium etc).

Apesar do vocabulário não ajudar, A Missão da Umbanda deve ser lido com calma, paciência, pois há ensinamentos muito valiosos. Se não conseguiu da primeira vez, reserve-o. Tente mais tarde. Certamente tentarei lê-lo novamente, pois me interesso muito pelo Aum-ban-dan e sei que ainda não estou preparado para esta conversa, mas quem sabe o que o futuro nos reserva, não é mesmo?

Finalizo com um ótimo exemplo sobre a poluição adventícia. Descobri-a num sutra ditado pelo Buda, tentei pesquisar a respeito, mas nunca tinha entendido até ler este livro. Não entendi o porquê de, se somos puros e, por herança genética, perfeitos como o nosso Pai, como é que nos tornamos o que somos hoje? A culpa não é nossa, é do ambiente onde escolhemos viver nossas esperiências.
"Na descida vibratória de cada mônada espiritual para os mundos inferiores, no inexorável apelo magnético de individualização, ela é atraída para os planos mais densos de manifestação. Nesse mergulho, apropria-se dos elementos próprios de cada dimensão para conseguir se manifestar de forma peculiar ao meio.
"Para sua compreensão, imaginem um minério puro que, exposto à luz do Sol, gera raios iridescentes à sua volta, sendo jogado num lago profundo. Atrai pelo magnetismo peculiar do meio aquilo que é natural no hábitat: folhas em decomposição, lama, algas, detritos, restos cloacais, entre outros. Esse mineral, magnetizado com a força vibratória do meio que o abriga, estará irreconhecível ao tocar o fundo lodoso e pútrido. Assim é a apropriação atômica no reino elemental nas dimensões vibratórias do orbe terrestre, no encadeamento da descida das mônadas espirituais que se “soltam” da luminosidade do Logos Universal". (pp. 124/125)
Ou seja, fomos criados com a mesma Luz de nosso Pai. Ao chegarmos aos mundos densos da 3D, como a Terra atual, fomos colocando sobre nós todo essa sujeira inerente a esses mundos e deixamos de acessar nossa Luz. Passamos a acreditar que somos toda essa sujeira, mas a Luz ainda brilha, dentro de nós. A Umbanda está aí para tirarmos todos esses cacarecos que não nos pertencem!

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A Missão da Umbanda
Norberto Peixoto, por Ramatís
Triângulo Editora (2ª Edição, 2020)
147p. (lido em e-book)
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