Maria Modesto Cravo, que já foi protagonista de outro livro psicografado por Wanderley de Oliveira, Os Dragões (resenha, aqui), traz reflexões sobre que tipo de moralidade os médiuns espíritas devem almejar para atravessarem a transição planetária pela qual a Terra passa, quando deixará de ser um mundo de provas e expiações para se tornar um de regeneração.
Com este intuito, é mostrado, no plano material, os "bastidores" do funcionamento do GEF (Grupo Espírita Fraternidade) e, no astral, o que fazem os médios deste centro espírita no Hospital Esperança (ricamente descrito em Lírios da Esperança, também de Wanderley de Oliveira), quando desdobrados durante o sono.
Para enfatizar o que deve ser mudado nos novos tempos, os dirigentes do GEF, Maurício e Elvira, são confrontados com a "saída do armário" de Paolo, um médium muito ativo do grupo que os convida para sua festa de noivado com seu companheiro. Ao saírem da festa, os dois dirigentes têm a certeza de que Paolo está obsediado.
Então, chegamos ao Capítulo 5, "Mediunidade e Homossexualidade", onde há um diálogo tenso entre Maurício e Paolo, pois Elvira fica praticamente muda a conversa inteira. À noite, em desdobramento, Paolo se encontra com Maria Modesto Cravo que lhe dá conforto e explicações.
"Todo médium com Jesus, chamado aos mais amplos campos de ação comunitária, experimentará a dor de ser julgado e caluniado, porque todas essas expressões do comportamento humano fazem parte do movimento de progresso e burilamento. Não existe crescimento sem projeções. Não existe luz sem deslocamento de sombras. Onde existe reação, existe ensinamento. (...)"— Eu lhe agradeço o carinho e a sabedoria, dona Modesta. O que a senhora me diz sobre essa alegação de que os homossexuais estão envoltos em energia ruim ou sob o domínio de companhia enferma?"— Sexualidade, Paolo, tem sua medida moral e espiritual sadia na dignidade, no respeito, na responsabilidade e no amor. Você vive uma relação nutrida pela riqueza moral, é amado e ama o Carlos, ambos estão com propósitos divinos de formar uma família. Que energia pode vir de uma pessoa como você? Maurício, bem como muitos companheiros de ideal espírita, por não desenvolverem a educação dos sentimentos para aferir a vida pela perspectiva do coração, não encontrou outra medida senão adotar rótulos para avaliar o que lhe cerca, servindo-se de ensinamentos estáticos e conceitos rígidos aplicados coletivamente". (Capítulo 5, grifo meu)
Para jogar mais luz sobre o tema:
"Somente pelas lentes do sentimento temos condição de examinar as pessoas como individualidades. (...)"Quando adotamos rótulos engessados, a mente se paralisa e distancia o pensamento do sentimento. Essa dicotomia chama-se julgamento. (...)"Não é a orientação sexual que determina a energia e as companhias espirituais. É a forma de viver, o expressar do sentir e do pensar é que moldam a aura do ser humano, seja ele negro, homossexual, muçulmano, católico, baixo, alto, velho ou novo". (Capítulo 5, grifo meu)
Após esse assunto, Maria Modesto Cravo entre com tudo no grande problema que se coloca nos grupos espíritas: julgamentos alheios, intolerância, pessoas falíveis com pontos de vista rigorosos, pessoas com atitudes impulsivas... ou seja, problemas relacionados à convivência dentro de uma casa espírita.
No entanto, um novo mundo requer novos médiuns (e, principalmente, dirigentes!), menos focados exclusivamente nos estudos e nos julgamentos (pensamento/cérebro) e mais voltados à caridade, à fraternidade e à solidariedade (sentimento/coração).
"Saber tudo sobre a obra de Kardec não é suficiente para sublimar o melindre, impedir a indisciplina e tolher a inveja. (...)"os médiuns do século 21 experimentam um novo gênero de necessidades. Nos séculos 19 e 20, os fenômenos tinham propósitos de convencer, gerar pesquisa, incentivar a cultura do sobrenatural com explicações racionais e lógicas e radiografar o mundo espiritual. Agora que o período da regeneração começa a despontar, os médiuns percebem mais profundamente a si mesmos e não somente as entidades espirituais. Na regeneração, teremos mais médiuns da Luz do que do sombrio. (...)"Na regeneração, a mediunidade será mais focada no entendimento da vida emocional e mental do médium do que no entendimento dos mecanismos do fenômeno em si. (...)"Essa compulsiva necessidade pelo saber na comunidade espírita traduz uma ânsia do ego de se sobressair." (Capítulo 8, grifo meu)
O Lado Oculto da Transição Planetária é um dos livros mais leves psicografados por Wanderley Oliveira, talvez porque o tema da homossexualidade tirou o meu sono por muito tempo até chegar à mesma conclusão que li aqui (tudo é prova!), mas acho que a causa principal dessa leveza seja porque o enfoque da narrativa é sobre a vida terrena das pessoas e não tanto nos conceitos espíritas.
Um fato curioso, para te instigar à leitura, diz respeito aos motivos de Maurício e Elvira ficarem extremamente desconfortáveis com a homossexualidade de Paolo: ambos têm provas a vencer neste assunto.
"Bem aventurados os pobres de espíritos". (Mateus 5:3)
"Aquele que se eleva será rebaixado e aquele q se rebaixa será elevado". (Lucas 14:11)
Ou, como diria Pai Joaquim do MEEU: "CALA A BOCA, EGO!"
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O Lado Oculto da Transição Planetária
Wanderley Oliveira, por Maria Modesto Cravo
Editora Dufaux (2014)
293p. (lido em ebook)
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